segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O tal samba de escritório

Quadra Vila Isabel
Eis aí, o samba! Quando se pensa em samba, logo vem a mente um lugar harmônico, onde quase não há polêmicas... Não é bem assim! Vamos rapidamente entender primeiro onde surge este artigo. Um dos períodos mais movimentados e animados durante o ano em uma escola de samba é, normalmente, a disputa de samba enredo. Durante essa disputa de samba parcerias de compositores vão semana a semana apresentando seus sambas de forma eliminatória até chegarmos ao campeão, no samba que a escola levará pra Sapucaí. Bem, a polêmica da qual trataremos aqui está em alta entre os compositores, o conceito “samba de escritório”.

O “samba de escritório” é utilizado para considerar um compositor tradicional de uma escola que ajuda ou até é acusado de fazer o samba para uma parceria de outra escola, porém não assina o samba. É visto por muitos compositores por falta de respeito e ética. Historicamente esta crítica não faz muito sentido. Vamos para o berço do samba, em 1916, onde neste período a casa da baiana Ciata, localizada na Cidade Nova, era uma referência para os negros e mestiços músicos do Rio de Janeiro. Foi nesta localidade que o compositor Donga, filho da Tia Amélia, outra baiana, percebeu que aqueles versos cantados nas rodas de música poderiam virar um samba. Fez-se então a parceria com o Jornalista Mauro de Almeida na composição do samba “Pelo Telefone”, registrada na Biblioteca Nacional e gravada na Odeon. Mas nem todos aceitam essa história, há uma corrente que defende que este samba não foi feito por eles. Anos depois, no período já da morte de Donga, nascia Noel Rosa. Noel Rosa foi um excelente compositor, vendeu diversos sambas, fazia parcerias muitas vezes por interesses financeiros, neste período outros compositores agiam da mesma forma, Ismael Silva, Wilson Batista. 


Nos dias de hoje não é visto ninguém por em cheque a qualidade e talento desses gênios. Como também são absurdas acusações desse nível. O compositor tem o prejuízo com o palco, interpretes, com artigos para enfeitar suas torcidas, e ainda iriam querer rachar com mais um o valor dos direitos do samba, sendo que parte fica para a escola, outra parte tapa os prejuízos da disputa, sendo que este mais um nem assinou o samba? Não faz sentido. E mesmo que fizesse, para que prender e encurralar o talento? Ajudar, recebendo algo ou não, é antiético? Incompreensível. Se este conceito “samba de escritório” for realmente o que se diz, que continue! Quantos mais sambas de qualidade e feitos por grandes compositores melhor!         

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