Sambas de Enredo 2014 |
Analisar sambas de enredo num carnaval como é o do Rio de Janeiro, é certamente uma das situações mais complicadas, tanto pela qualidade dos compositores, como pela relevância que o quesito tem, como pela força e mesmo pelo momento Sapucaí, onde treino é treino e jogo é jogo, lá, na "Passarela do Samba" tudo pode acontecer. Esta análise não trata de técnica propriamente dita, mas de como a emoção do samba é tratada, bem como os resultados que se esperam. E como costuma dizer um poeta de Mangueira: "samba bom é samba que o povo canta, pronto!"
E apenas por uma questão de comparação apresentarei notas de 9.0 à 10.0.
VILA ISABEL
Refrão principal com os versos: "O sangue azul tá na veia com certeza O samba é a minha natureza é bom lembrar Tem que respeitar!" trazem talvez, a única afirmação e comportamento para impor respeito à campeã do carnaval 2013, belos versos.
O samba definitivamente, não consegue narrar o enredo, que é extenso e confuso, não elucida o tema, e acabou embaralhando ainda mais, difícil entendimento. Percebe-se uma tentativa de se repetir o sucesso de 2013 em todas as suas dimensões, infelizmente, não veio a tal vida simples da Vila, esta obra não cumpriu o mesmo papel. Falta, ainda um momento de explosão, o samba passa mediano em todo o tempo. Os versos não cativam a emoção deste "Brasil Plural", e acaba se tornando comum demais, falta originalidade melódica e poética.
Talvez, a comparação com 2013 faça a crítica ser mais intensa, mas é parte do jogo, afinal, estamos falando da atual campeã, a lendária Vila de Noel Rosa.
E ainda, o samba parece não ter incorporado esta nova fase do Brasil, onde tecnologia e economia fazem este país ser tão "plural" aqui, como no mundo inteiro. Enfim, é um samba que não empolga. NOTA 9.3
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Samba extremamente fraco, carregado, arrastado, tá mais para Parada Cívica, do que para o carnaval, ainda mais se tratando de uma escola com as credenciais da Beija-Flor. Muita gente falava, ainda durante as disputas, quando se comentava a qualidade da safra, que a escola não precisava de muitos sambas bons, precisaria apenas de um samba, porque iria escolher apenas um, e diziam que a escola tinha este samba, hoje, com propriedade, reafirmamos que a safra foi medíocre, e o samba escolhido carrega toda esta mediocridade. Estamos acostumados a ouvir bons sambas de Nilópolis, talvez aí esteja toda nossa acentuada crítica a esta obra que nem mesmo Neguinho da Beija-Flor, com todo seu talento conseguiu salvar.
"Boni tu és o astro da televisão
Fiz, da sua vida minha inspiração
Vem, a festa é sua, a festa é nossa de quem quiser"
Como assim? Quem no mundo do samba se inspirou em Boni? Quem na Beija-Flor se inspirou nele? Sem contar com uma bela homenagem implícita a tão amiga da escola, a Rede Globo de Televisão. Muito ruim!
"Mostra que 'babado é esse' de samba no pé", este verso parece piada, um fracasso total.
Em todo o samba está muito claro que os compositores não conseguiram tirar "leite de pedra". Mesclar a história da comunicação com a figura de Boni, não deu um bom samba. Não fosse pelo luxo, a que se espera deste desfile, das caríssimas penas e brilhos em sua produção, muita gente ia dormir nas arquibancadas quando a escola fechar os desfiles no domingo de carnaval, talvez, até durma um sonho tranquilo.
A comunidade pode até cantar o samba, não tem jeito, eles vão cantar, como sempre fazem ao defender qualquer ideia apresentada, desde que exalte sua escola, mesmo assim, a azul e branca passará sufoco para fazer cantar e levantar o público presente. Já no que compete às notas no quesito, há de se ter seriedade e prudência por parte dos julgadores ao se avaliar esta obra, de extremo mau gosto. NOTA 9.0
UNIDOS DA TIJUCA
A letra retrata perfeitamente o enredo, que até vai homenagear Ayrton Senna, mas é bem mais amplo, trata-se da velocidade, que tem em seu ponto alto, aí sim, o maior velocista brasileiro de todos os tempos.
O samba poderia ter uma dose mais elevada de poesia.
O segundo refrão é cativante! E o fim da segunda estrofe nos faz lembrar como era bom colocar o despertador para nos acordar nas manhãs de domingo, para aplaudir Ayrton Senna do Brasil. Já no refrão principal, o samba chama a massa tijucana a avançar, a vencer, numa verdadeira explosão.
Este samba confesso, é um xodó!
Muito parecido com 2010 que atraiu inúmeras críticas quanto ao conteúdo e poesia, mas que explodiu e fez o povo cantar, e a cantar até hoje!
O samba nos desafia a imaginar a genialidade e surpresas do carnavalesco Paulo Barros no desfile de 2014 da Unidos da Tijuca.
E para falar de Senna, o samba não precisou apelar a nenhum tipo de homenagem à Rede Globo de Televisão, nem a qualquer tipo de patrocínio (isso é muito feio quando acontece), o samba apenas brilhou com sua luz própria. NOTA 9.6
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
Wander Pires já esteve bem melhor em sambas anteriores, o samba me parecia um pouco melhor enquanto nas disputas.
Faltou ao samba uma citação ao clube com o qual o homenageado, Zico, ganhou visibilidade e tanto brilhou, seu time de coração o Clube de Regatas do Flamengo.
Uma obra de muito 'oba! oba!' que pode até funcionar na Sapucaí (porém não funcionou na gravação que é muito ruim), me parece um pouco quanto enjoativo e sem um momento de explosão, o "Da-lhe, da-lhe, da-lhe ô" me parece não ser suficiente, embora tenha apelo popular. Acredito que faltou ao samba o "momento gol", a explosão da massa, enfim, um samba de 0x0 se comparado a uma partida de futebol.
Zico, grande ídolo de milhares, merecia muito mais!
E por fim, é um samba que não se identifica com a história de grandes sambas na Imperatriz, principalmente nos últimos anos. NOTA 9.3
SALGUEIRO
Graças aos deuses do samba, o Salgueiro abandonou o sonho de ter um novo "Explode Coração", que bom!!! O samba 2014 é um desses para marcar época, samba com cara de Estandarte de Ouro (maior premiação do carnaval carioca, oferecido pelo jornal O Globo). Cantado fortemente por sua comunidade ainda nas disputas, a obra impecável de Xandy de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa, merece infinitos aplausos!
Uma bela melodia, uma poesia imbatível, síntese muito bem produzida do enredo "Gaia - a vida em nossas mãos".
A boa gravação deu um tom de requinte a obra. O segundo refrão que faz referência aos orixás que são forças da natureza, se aplica perfeitamente, e o salgueirense se identifica demais com tudo isso.
É um samba que não se apega apenas a um bom refrão, é completo, e cativante em todas os seus versos.
Mesmo com a repetição do nome da escola no refrão principal para a virada do samba, que chama "Salgueiro" três vezes, a obra não perde poder e nem tão pouco seu brilho. NOTA 10.0
GRANDE RIO
Repleto de clichês, disputa acirradamente para ser o pior samba do ano. Com um enredo fraco, fica visível a falta de poesia e criatividade dos compositores, nem Maysa (cantora que será homenageada no desfile) foi capaz de salvar a obra.
O samba apresenta uma possibilidade gigantesca de atrapalhar o desfile, é um samba pobre, principalmente para quem será a segunda escola de domingo, o que já não é uma boa posição para se desfilar, parece marchinha de carnaval, de gosto duvidoso.
O sopro de melancolia da homenageada parece ter incorporado no samba, que não diz a que veio, engatinhou na prévia sem jamais se desenvolver. Falou, falou, e não disse não!
E assim, a escola vai se firmando como pouco produtiva na arte de nos apresentar sambas de qualidade.
NOTA 9.1
PORTELA
Maravilhosa poesia retratada no samba, Wantuir conseguiu engrandecer ainda mais a melodia, e mais uma vez a Portela se desprende de seus sambas mais tradicionais, como o fez tanto em 2012 como em 2013, e deu certo mais uma vez, nascendo então mais um samba ousado.
Boa sacada já no primeiro verso com um belo "ôooooo", que oferece o samba. Muito feliz a referência ao "bota-abaixo" (nome popular dado às reformas urbanísticas conduzidas pelo prefeito Pereira Passo em 1904). Entretanto, o samba acelerado, em alguns momentos atrapalha o encaixe perfeito de alguns versos, assim o canto parece ficar corrido.
Mesmo com esta certa aceleração, trata-se de um dos grandes sambas da temporada, e vai dá trabalho para as co-irmãs na avenida.
"Vou de mar a mar, mareia
Vou de mar a mar, mareia, mareou
Iluminai o tambor do meu terreiro
O santo padroeiro
O axé da Portela chegou"
Este refrão principal pegou lá pelas bandas de Oswaldo Cruz e Madureira. O samba levantou o enredo, este sim, não faz parte dos mais originais do carnaval 2014. NOTA 9.8
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
O samba é uma síntese muito bem produzida da bela sinopse de Rosa Magalhães, sem plágio este ano é bom lembrar (vale recordar que a Mangueira plagiou em 2013 a sinopse de 2002 do carnaval campeão da escola), ao ouvir o samba é possível já vislumbrar a Mangueira montada na avenida. O enredo trata basicamente de dez grandes festas brasileiras, representando muito bem tantas outras, para firmar o desfile da Verde e Rosa.
A menção a Parada do Orgulho Gay é de muito bom gosto, e extremamente feliz, tema de festa, mas principalmente de luta por respeito a diversidade, e sendo assim, aos direitos humanos, linda homenagem a tantos que constroem este carnaval.
"Ao longe todo mundo me conhece", este verso faz menção clara ao samba de exaltação da escola, conhecido e imortalizado "Mangueira teu cenário é uma beleza", e isso mexe com o coração do torcedor, bem como quando cita o Supercampeonato de 1984, conquistado pela Mangueira, é um grande momento de explosão de quem está há onze anos sem conquistar um título, é bom lembrar que em 2014 o Supercampeonato, que foi único, completa trinta anos.
Um samba valente, pra cima, vivo, de explosão! Ajuda a evolução da escola, faz o componente brincar de carnaval, é leve simplesmente, ainda que extenso. Tem a cara da agremiação, vai dar muito trabalho para quem quer ser campeã em 2014. Os surdos da bateria "Tem Que Respeitar Meu Tamborim" casaram perfeitamente com a boa melodia, e com um Luizito impecavelmente gigante, com o coração nas mãos, um legítimo mangueirense! Luizito, este mestre, conseguiu colocar o samba na medida correta, sem exageros, e fez assim, disparadamente a melhor gravação do ano. NOTA 10.0
UNIÃO DA ILHA
Bom samba, até criança vai cantar, um xodózinho. A Ilha vai brincar muito, o samba permite. Narra muito bem a magia do mundo dos brinquedos e brincadeiras, não se prende a tipo e/ou espécies, é bem mais amplo. Quem ouve consegue entender rapidamente o enredo. Ito Melodia mais uma vez mandou bem! A gravação agigantou o samba.
É um samba que parece não ter atingido, ainda, tudo ao que se propõe e pode, deve crescer um pouco mais.
Faltou, apenas, um refrão explosivo, o "grito da criança", para levar a Ilha pra frente e levantar a todos nós de nossas confortáveis cadeiras, para alguns nem tanto assim. NOTA 9.5
SÃO CLEMENTE
Igor Sorriso deita e rola na melodia bem acertada do samba, que perde destaque quanto à sua poesia, que poderia ser bem mais original se libertando do óbvio que se tornou. Faltou muito da conhecida irreverência da São Clemente.
Ausência, ainda, de um momento de explosão na obra, problema constatado nos dois refrões.
O samba até apresenta bem o enredo, mas não de identifica com o estilo da agremiação.
Gosto muito da homenagem aos sambistas, muitos de nós vindos e enraizados nas favelas brasileiras. É um samba leve, isso até ajuda a apresentação. NOTA 9.4
MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Estréia de Dudu Nobre com aplausos, acertada inspiração, uma verdadeira prova de amor a Mocidade, como ele mesmo diz, num momento em que se faz URGENTE um novo tempo, para a querida Mocidade, o refrão principal mostra muito bem isso "Louco de paixão sempre vou te amar", chama o torcedor para o desfile e a mostrar todo seu louco amor. E Bruno Ribbas? O que dizer deste cara? Simplesmente fantástico, evitou o único perigo do samba, que era de se tornar arrastado.
Quando o samba aborda o incontestável Ziriguidum de 1985 e a arte genial do carnavalesco Fernando Pinto, é emocionante.
A parceria de Dudu Nobre, Diego Nicolau, Jefinho Rodrigues, Marquinho Índio, Gabriel Teixeira e Jorginho Medeiros, retratou um estilo altamente pernambucano, com nuances bem características do estado do nordeste do Brasil.
No desfile, tanto Bruno Ribbas, como a bateria "Não Existe Mais Quente", terão um trabalho intenso para que o samba não passe com efeito de "marcha", por se tratar de um samba pesado, na gravação não aconteceu isso, espero que se repita no desfile oficial.
O samba parece marcar um espaço importante na história da escola, para esquecermos que um dia existiu aquele desastroso samba 2013, com um "Rock In Rio" totalmente desacertado.
Trata-se, sobretudo, de um resgate do orgulho de ser Independente de Padre Miguel, este caminho escolhido pelos compositores tem dado resultados positivos a quem o fez na história dos sambas de enredo. NOTA 9.7
IMPÉRIO DA TIJUCA
O refrão principal transmite uma energia vista poucas vezes num samba, com uma cadência forte e uma letra impecável, faz de fato "o chão tremer".
Nos outros versos, no entanto, poderia ter ousado mais na criatividade nem sempre bem explorada em temas afros.
Pixulé em boa forma garantiu uma boa gravação e um espetáculo à parte, que só pertence a seu talento, é bom vê-lo no grupo especial.
É um samba que promete fazer o público chegar mais cedo na Sapucaí, vai abrir os desfiles muito bem, é valente, é forte, é guerreiro! Ainda pode crescer até ecoar no domingo de carnaval naquele que será um glorioso mês de março no Rio de Janeiro. NOTA 9.7
Classificando...
SALGUEIRO e MANGUEIRA 10.0
PORTELA 9.8
MOCIDADE e IMPÉRIO DA TIJUCA 9.7
UNIDOS DA TIJUCA 9.6
UNIÃO DA ILHA 9.5
SÃO CLEMENTE 9.4
VILA ISABEL e IMPERATRIZ 9.3
GRANDE RIO 9.1
BEIJA-FLOR 9.0
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ResponderExcluirCAMBADA DE BURROS !!! BEIJA FLOR NA CABEÇA !!!! LAVAM A BOCA PARA FALAR DA NOSSA ESCOLA, O NOSSO SAMBA É FANTÁSTICO !!!!
ResponderExcluirIncrível, amigo, você nem saber interpretar a que tipo de inspiração o samba fala. Meu Deus do Céu!
ResponderExcluira vida desse cara, que você acha tão medíocre, foi que inspirou aos artistas nilopolitanos, e no desfile, cada componente, a realizar tal intento: falar sobre a importância da comunicação na vida de cada um de nós.
Isso que você, caro amigo, está fazendo agora, deve-se a toda esta história que será contada pela Beija-flor.
Desculpe-me, mas seu comentário é de uma pobreza maior do que a da poesia feita pelos compositores da escola de Nilópolis, e isso segundo você.
Bom.. cada um tem seu ponto de vista, e você amigo, está certíssimo em suas afirmações... A verdade é que, a Beija-Flor queria homenagear o "Astro Iluminado", mas não tem pauta para tal homenagem direta de sua vida por exemplo. O jeito então é fazer o que a mesma tanto sabe, uma ligação aos confins da terra, como fio condutor.. Mas desta forma, foi muito pior. Na minha opinião "MINHA OPINIÃO" o enredo é confuso e o samba mais ainda.. não fala coisa com coisa... enfim. #Oremos para que a verdade apareça e a justiça seja feita.
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