Samba |
Essa janela que existe entre o resultado de um
carnaval e o início da temporada de outro, onde vemos um imenso mercado de
profissionais sendo negociados, bem como todo tipo de proposta de enredo. Sinceramente,
é um tempo de muita ansiedade e expectativa para quem faz carnaval, samba e
poesia. E assim como todos os profissionais, estão incluídos aí os poetas do
samba, compositores, que nesse período já negociam com quais parceiros e em
quais agremiações vão disputar samba. E seguindo esse contexto, todos nós,
apaixonados por nossas escolas de samba ficamos inquietos, querendo sempre uma
ala de compositores ainda mais forte e dedicada, no mínimo poética, não fosse apenas
por isso, vivemos a longa angústia da escolha dos enredos e lançamento das
sinopses que eles, os eternos poetas, vão utilizar como base para suas obras.
Será a partir do lançamento do enredo e
posteriormente das sinopses que tudo se dará, e realmente todo o trabalho será
desenvolvido e criado. E esse momento de angustia e suspense, muito se dá
porque hoje em dia, um enredo por ser qualquer coisa! A palavra “coisa” pode
não soar muito bem, e ser até feia para uma arte tão bonita como os desfiles
das escolas de samba, mas nos últimos anos estamos vivendo um tempo em que
enredo pode ser, de fato qualquer coisa: um lugar, uma pessoa, uma situação, um
sentimento abstrato, uma emoção, uma data, um rio, um animal, ou mesmo tudo
isso misturado, ou nada disso, pode sim, ser qualquer coisa.
Os sambas de enredo, ao contrário dos enredos,
pelo menos na teoria, não podem ser qualquer coisa, nem mesmo colocados nesse
pacote do ‘vamos vencer de qualquer jeito’ e ‘no fim das contas o resultado vai
justificar tudo’, porque aí, nem sempre o bom resultado vem.
Sambas de enredo têm por obrigação serem
bonitos, elegantes, simpáticos, empolgantes, de fácil comunicação com o povo,
tem de ter cada qual sua particularidade. Mas a pergunta que me faço é: como
pode nascer um samba bonito oriundo de um enredo feio e sem conteúdo? Definitivamente,
não há como esse milagre acontecer!
E por mais que existam alas de compositores
repletas de homens e mulheres talentosos e esforçados, esse milagre
dificilmente acontecerá, o máximo que vai acontecer é transformar o feio em arrumadinho,
o que não é a função do samba.
Não bastasse essa falta de compromisso com a
escolha dos enredos, vamos para outro problema grave: as sinopses!
No período pós-lançamento de enredo, o
carnavalesco da agremiação vai explanar a sinopse para o próximo desfile, o
coração do samba está ali naquele ato, a entrega da sinopse pode até acontecer,
mas nem sempre uma boa explicação acontece, infelizmente.
Vemos enredos passarem nos últimos anos, tão
confusos e sem conteúdo, que nem mesmo os próprios carnavalescos conseguem
defende-los com dignidade e valentia. Aí estamos enlaçados num prejuízo sem
precedentes, péssimo enredo, péssima sinopse e vem aí um samba do ‘crioulo
doido’ (sem a qualidade dele, é claro).
É lógico que nem todo bom enredo gera um bom
samba, mas aí podemos colocar os compositores para pagarem essa conta, mas
certamente um enredo de pouco conteúdo e gosto duvidoso, em hipótese alguma
será capaz de fazer nascer um bom samba, competitivo e capaz de emocionar e
levantar o povo, e aí a culpa não pode ser direcionado aos guerreiros
compositores.
Então, nesse período, ainda de expectativas
quanto aos sambas de cada agremiação para 2015, vamos prestar bastante atenção
em como cada escola decidiu seu enredo, desenvolveu sua sinopse, para só então,
olharmos para os compositores, porque esses poetas podem ser sagrados, mas não
milagreiros.
A gente não quer só samba, a gente quer samba e arte, e não mais milagres!
Publicado no site Rádio Casa do Samba, em 27 de junho por Raymondh Júnior
Pura verdade!!! Até compartilhei !!!
ResponderExcluirExcelente!
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