quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Eu e a Portela de hoje


Por Luís Carlos Magalhães, colunista do Site Carnavalesco

Considero que tenho uma boa relação com o presidente Nilo.

Tenho com ele basicamente três discordâncias. A primeira, e fundamental, a escolha dos enredos. A segunda... a forma superficial e insuficiente como sua administração se relaciona com sua apaixonada torcida. E finalmente a maneira pouco eficiente como o cronograma físico-financeiro do barracão da escola é conduzido/controlado ocasionando sempre sérios atropelos para carnavalescos e, por consequência, o desempenho da escola.

Acho que o presidente é um Portelense, deseja a vitória para a Portela e tem um passado vivido nela. Se vai conseguir o que o Portelense almeja, ah! aí é que não sei...não sei mesmo, já não acredito.

Minha expectativa em relação a ele, após “àquela invasão”, era que se portasse como um estadista. Que gerisse um mandato tampão garantido à escola uma forma de eleger seus dirigentes com dignidade. Mas isto era no tempo em que eu acreditava em papai Noel.

Quanto ao segundo motivo aqui apontado, a questão da comunicação com seus comandados, já tratei aqui em três artigos: “Não, não pode ser verdade!” 1, 2 e 3 ,
todos possíveis de serem encontrados neste “site”.

Agora vieram as histórias do corte de luz e da greve no barracão sobre os quais não me manifestei até aqui. O corte de luz é algo tão impensável que não acreditei nem no fato noticiado e nem na versão apresentada pela nota da escola.

Estive no aniversário da tia Surica e lá ouvi do administrador da quadra uma explicação pra lá de razoável e convincente que, se prestada pronta e claramente, em cinco linhas, afastaria da administração a impressão de absoluto descontrole que a notícia e a justificativa geraram.

Será que falta à escola uma assessoria de comunicação competente, ou falta à presidência o interesse, pior... o compromisso de prestar contas aos Portelenses, contrários ou não a ele.

Mas quero tratar aqui dos dois outros motivos, que agora se embaralham.

O que temos hoje? Como os Portelenses estão assistindo aos preparativos pré-carnavalescos de uma escola que, a cada ano, e em vários pontos do país, demonstra mais e mais força fora do carnaval, e não consegue sagrar-se vencedora há tanto tempo?

O que o Portelense vê e sente é uma escola que no último carnaval fez um desfile tão arrasador em sua primeira metade, mas tão empolgante, que tantos e tantos Portelenses, como eu, acreditamos e nos emocionamos com a ilusão da vitória.

E foi assim que guiadas por um samba revolucionário as alas se sucediam contagiantes até o momento em que a qualidade das alegorias caiu de forma a apagar qualquer esperança.
 
E foi assim, tendo sentido uma emoção já quase esquecida, que todos nós refizemos a esperança de que “para o ano” seria diferente. Teríamos um samba de igual qualidade e o barracão não sofreria as vicissitudes do ano anterior.

E o samba veio, está aí, depois de uma disputa que só orgulha os Portelenses. O enredo tão bom quanto o do ano anterior. Achamos todos que este ano ia ser “tudo nosso”, como diz nosso puxador.

E aí chegam a cada semana notícias dando conta de que as finanças da escola estão esfareladas em meio à dívidas, atrasos de funcionários e até ensaio suspenso por falta de pagamento do carro de som.

E o barracão às moscas, ensaios suspensos. Isto a incontroláveis e apavorantes 75 dias do carnaval.

Considerando que minha principal diferença com a presidência é a escolha de enredos, como me sentir à vontade para reclamar de tal estado de coisas se a escola optou por um enredo altamente carnavalizável, tão a gosto de seus componentes, mas sem um patrocínio que o sustentasse no todo ou em parte.

Ora, certamente a Vila, o Salgueiro a Beija-Flor, a Mangueira, a Imperatriz, a Mocidade, a Grande Rio, a Tijuca e a Inocentes, com seus patrocinadores estarão bem adiantados, me perguntei...

Mas será mesmo que a escola optou mesmo por um enredo não patrocinado? Será que tal escolha não foi por um ... digamos, “comum acordo” com o prefeito da cidade? Será que tal concordância não terá gerado um mínimo de garantia de fluxo e recursos?

Será que o custeio, pelo menos o custeio, da escola não tem condições de ser coberto pelas atividades de ano inteiro de uma quadra excelente encravada no bairro atualmente mais badalado da cidade?

Será que a escola não tem condições de agendar shows, apresentações, de pelo menos 12 apresentações por ano em um dos 5000 municípios brasileiros?

Será que a escola tem suas contas prestadas junto aos órgãos financiadores a ponto de estar apta a captar recursos no mercado , já que não tem estabilidade financeira para bancar um enredo sem patrocínio?

Será que a escola permanecerá à mercê do estapafúrdio cronograma dos financiadores oficiais que insistem em desconhecer que o carnaval é uma festa de fevereiro, mas que começa em julho, por aí? Que, a continuar assim, e parece que vai, tais liberações de véspera convidam as escolas à irregularidades fiscais e até atos de corrupção de dirigentes mais vulneráveis ao dinheiro fácil além de outras facilidades quase sempre irresistíveis?

As eleições estão aí, em abril imagino. Não sei se o presidente estatutariamente pode concorrer mais uma vez. Não sei se usou de alguma manobra de alteração estatutária que possibilite isso, previsível em milhares de instituições brasileiras. Não sei se haverá algum candidato de sua indicação e nem se há alguma oposição constituída.

O que sei, segundo o universo de Portelenses ao meu alcance, que comigo dialogam no lcciata2@hotmail.com , a certeza que emerge é a de que se espera mudança. O que é sugerido, repito, no pequeno universo de minha caixa postal e o que corre pelas redes de relacionamento, o Portelense quer mudança. Já não acredita mais que a escola possa competir minimamente em igualdade de condições com suas competidoras.

Tudo que o Portelense ao meu alcance quer é poder acreditar, ter fé, que, com um samba de verdade, composto exclusivamente por Portelenses, com um enredo que conquiste seus apaixonados componentes, com um barracão bem gerido, poderá disputar títulos, alcançar primeiras colocações até, um dia, chegar ao título.

O Portelense que ouço, que leio, com os quais dialogo, e que na maioria não vota, não acredita mais nesse projeto que aí está e,por isso, se atribui o direito de conhecer outro.

Só isto...

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