Por Ricardo Barbieri, blogueiro do Site Carnavalesco
A cidade maravilhosa está passando por transformações.
Se prepara para a Copa do Mundo, para as Olimpíadas. Recebe obras de infraestrutura e modernização. Diariamente se discutem as necessidades dos sistemas de transporte aéreo e rodoviário, reformas dos estádios de futebol e ampliação da rede hoteleira.
No entanto, Copa do Mundo e Olimpíadas estão relativamente longe. Mesmo assim já se fala em atrasos e morosidade.
Para o carnaval, principalmente nos grupos abaixo do Especial, há muito a ser feito. A capacidade de improvisação do brasileiro não pode ser vista como a melhor forma de se fazer as coisas. É preciso planejamento, disciplina e acima de tudo responsabilidade para que tenhamos segurança e sucesso nos eventos.
Para quem não sabe, algumas escolas de samba dos grupos de acesso do carnaval carioca sempre utilizaram espaços alternativos para preparação de seus desfiles. O maior deles se situava na zona portuária do Rio de Janeiro e era apelidado Carandiru.
Era uma área invadida, em condições precárias de instalação, onde imperava o improviso e vários riscos para a segurança das pessoas e do patrimônio das escolas.
A necessidade de reurbanização da região e interesses imobiliários fizeram com que uma ação de reintegração de posse fosse deferida e uma ordem de despejo determinou que essas escolas desocupassem o local.
A prefeitura que providencia infraestrutura para os desfiles e instalações das escolas do Grupo Especial, não se interessou até o momento em dar as escolas do grupo de acesso recursos semelhantes.
Os barracões de escolas de samba (independente do local que ocupam) possuem um alto risco de incêndio pois existe um número imenso de material inflamável e muitas fontes de ignição.
No caso das escolas que ocupam barracões fora da Cidade do Samba, este cenário se agrava pelo fato de imperar o improviso. São pontos de energia e gambiarras espalhados para todo lado, emendas mal feitas e mal isoladas, material inflamável líquido (que deveria estar em armários adequados anti-chamas) disperso, descontrole da movimentação de pessoas, atividades de soldagem sem proteção adequada etc.
Além das estruturas de carros, tripés e material para confecção do carnaval, as escolas de samba despejadas, levam na bagagem toda a improvisação que havia no Carandirú e mais um peso: a incerteza do futuro.
QUAL É O CENÁRIO DA CIDADE DO SAMBA?
No que diz respeito ao combate a incêndios existem, nos barracões da Cidade do Samba, sistemas de refrigeração com sprinklers, que são linhas instaladas no teto dos andares, dotadas de acionadores sensíveis ao calor, para refrigeração em caso de incêndio. A água cai, na forma de neblina sobre toda a área, controlando o fogo, pela pronta e contínua descarga, diretamente sobre o material em combustão. Existem, também, extintores e pontos de hidrantes com mangueiras e esguichos.
O que deixa dúvidas (em função do histórico recente) é que hajam treinamentos rotineiros e pessoas preparadas para usar os recursos de primeiro combate (pessoas das próprias escolas devem receber treinamentos para uso dos recursos até que a brigada de incêndio possa entrar em ação). Não tenho segurança também quanto a testagem periódica destes recursos. Estes requisitos são necessários para se evitar que o incêndio chegue à proporção do que aconteceu
recentemente. Eles servem para um primeiro combate.
Ainda com relação aos recursos disponíveis, se as mangueiras de água não forem testadas, elas “colam” e não podem ser utilizadas quando necessário, se os esguichos e hidrantes não receberem manutenção, emperram; se não houver uma brigada e usuários treinados os sistemas de primeiro combate não serão utilizados adequadamente e se tornam inócuos.
Vale lembrar que se trata de uma área de alto risco de incêndio pois existe um número imenso de material inflamável sólido (plástico, tecido, papel etc), vapores (solventes de tintas, colas) e gases (acetileno, hidrogênio, GLP) e muitas fontes de ignição (fio de corte de isopor, maçaricos etc).
Portanto, a Cidade do Samba ainda é uma área que requer atenção e investimentos contínuos em prevenção de incêndios. Dessas ações depende preservação de vidas e patrimônio.
QUAL É A SITUAÇÃO DO TRABALHADOR?
Graças à Deus (e devemos agradecer muito) não houveram vítimas em todos estes casos (incluindo o de hoje). Pois, normalmente, várias pessoas pernoitam nos barracões.
Além da vulnerabilidade quanto ao risco de incêndio, os trabalhadores que atuam nos barracões necessitam de atenção quanto a prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais.
A CLT tem, em seus anexos, Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde do Trabalhador. É uma legislação bastante moderna (salvo exceções como a NR-15), profilática e prevencionista. No entanto, sem paradigma para a não aplicação e a omissão dos organismos fiscalizadores com seu descumprimento.
Como classificarmos o envolvimento do executivo com o Carnaval, suas visitações aos espaços dedicados a montagem de alegorias, fantasias e adereços, sem perceber a precariedade dos mesmos e o descumprimento a estes requisitos?
Ao desfilar pelos barracões da Cidade do Samba, confraterniza com as irregularidades. São trabalhadores (não raro) sem vínculo empregatício, sem equipamentos de proteção individual adequados, com ferramentas improvisadas, em ambientes insalubres e despreparados para situações de emergência (como os incêndios).
O CENÁRIO
Nos habituamos a conviver com os contrastes. Como o de um complexo de favelas sem saneamento básico porém, com teleférico; de uma garbosa ponte estaiada sobrepondo um mar de veículos em vias congestionadas; de painéis decorativos sendo religiosamente repostos ao serem danificados, com a finalidade de esconder a feiura da pobreza e com modernas fábricas de carnaval sem a preocupação com as condições de trabalho.
Não é pensar “grande” esquecer que a cidade naufraga a cada verão. Tampouco é pensar no futuro fingir que os zumbis drogados pelas ruas nunca invadirão as universidades.
É necessário uma visão holística. Menos teórica e mais realista. Menos contaminada com as fantasias do carnaval e mais sintonizada com o mundo sem caricaturas.
Pesquisa e tecnologia devem ser somadas a justiça social. Não dá pra dormir, sonhando com o futuro, enquanto semelhantes caminham para o abismo. Sambam no carnaval e dançam na vida.
Se prepara para a Copa do Mundo, para as Olimpíadas. Recebe obras de infraestrutura e modernização. Diariamente se discutem as necessidades dos sistemas de transporte aéreo e rodoviário, reformas dos estádios de futebol e ampliação da rede hoteleira.
No entanto, Copa do Mundo e Olimpíadas estão relativamente longe. Mesmo assim já se fala em atrasos e morosidade.
Para o carnaval, principalmente nos grupos abaixo do Especial, há muito a ser feito. A capacidade de improvisação do brasileiro não pode ser vista como a melhor forma de se fazer as coisas. É preciso planejamento, disciplina e acima de tudo responsabilidade para que tenhamos segurança e sucesso nos eventos.
Para quem não sabe, algumas escolas de samba dos grupos de acesso do carnaval carioca sempre utilizaram espaços alternativos para preparação de seus desfiles. O maior deles se situava na zona portuária do Rio de Janeiro e era apelidado Carandiru.
Era uma área invadida, em condições precárias de instalação, onde imperava o improviso e vários riscos para a segurança das pessoas e do patrimônio das escolas.
A necessidade de reurbanização da região e interesses imobiliários fizeram com que uma ação de reintegração de posse fosse deferida e uma ordem de despejo determinou que essas escolas desocupassem o local.
A prefeitura que providencia infraestrutura para os desfiles e instalações das escolas do Grupo Especial, não se interessou até o momento em dar as escolas do grupo de acesso recursos semelhantes.
Os barracões de escolas de samba (independente do local que ocupam) possuem um alto risco de incêndio pois existe um número imenso de material inflamável e muitas fontes de ignição.
No caso das escolas que ocupam barracões fora da Cidade do Samba, este cenário se agrava pelo fato de imperar o improviso. São pontos de energia e gambiarras espalhados para todo lado, emendas mal feitas e mal isoladas, material inflamável líquido (que deveria estar em armários adequados anti-chamas) disperso, descontrole da movimentação de pessoas, atividades de soldagem sem proteção adequada etc.
Além das estruturas de carros, tripés e material para confecção do carnaval, as escolas de samba despejadas, levam na bagagem toda a improvisação que havia no Carandirú e mais um peso: a incerteza do futuro.
QUAL É O CENÁRIO DA CIDADE DO SAMBA?
No que diz respeito ao combate a incêndios existem, nos barracões da Cidade do Samba, sistemas de refrigeração com sprinklers, que são linhas instaladas no teto dos andares, dotadas de acionadores sensíveis ao calor, para refrigeração em caso de incêndio. A água cai, na forma de neblina sobre toda a área, controlando o fogo, pela pronta e contínua descarga, diretamente sobre o material em combustão. Existem, também, extintores e pontos de hidrantes com mangueiras e esguichos.
O que deixa dúvidas (em função do histórico recente) é que hajam treinamentos rotineiros e pessoas preparadas para usar os recursos de primeiro combate (pessoas das próprias escolas devem receber treinamentos para uso dos recursos até que a brigada de incêndio possa entrar em ação). Não tenho segurança também quanto a testagem periódica destes recursos. Estes requisitos são necessários para se evitar que o incêndio chegue à proporção do que aconteceu
recentemente. Eles servem para um primeiro combate.
Ainda com relação aos recursos disponíveis, se as mangueiras de água não forem testadas, elas “colam” e não podem ser utilizadas quando necessário, se os esguichos e hidrantes não receberem manutenção, emperram; se não houver uma brigada e usuários treinados os sistemas de primeiro combate não serão utilizados adequadamente e se tornam inócuos.
Vale lembrar que se trata de uma área de alto risco de incêndio pois existe um número imenso de material inflamável sólido (plástico, tecido, papel etc), vapores (solventes de tintas, colas) e gases (acetileno, hidrogênio, GLP) e muitas fontes de ignição (fio de corte de isopor, maçaricos etc).
Portanto, a Cidade do Samba ainda é uma área que requer atenção e investimentos contínuos em prevenção de incêndios. Dessas ações depende preservação de vidas e patrimônio.
QUAL É A SITUAÇÃO DO TRABALHADOR?
Graças à Deus (e devemos agradecer muito) não houveram vítimas em todos estes casos (incluindo o de hoje). Pois, normalmente, várias pessoas pernoitam nos barracões.
Além da vulnerabilidade quanto ao risco de incêndio, os trabalhadores que atuam nos barracões necessitam de atenção quanto a prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais.
A CLT tem, em seus anexos, Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde do Trabalhador. É uma legislação bastante moderna (salvo exceções como a NR-15), profilática e prevencionista. No entanto, sem paradigma para a não aplicação e a omissão dos organismos fiscalizadores com seu descumprimento.
Como classificarmos o envolvimento do executivo com o Carnaval, suas visitações aos espaços dedicados a montagem de alegorias, fantasias e adereços, sem perceber a precariedade dos mesmos e o descumprimento a estes requisitos?
Ao desfilar pelos barracões da Cidade do Samba, confraterniza com as irregularidades. São trabalhadores (não raro) sem vínculo empregatício, sem equipamentos de proteção individual adequados, com ferramentas improvisadas, em ambientes insalubres e despreparados para situações de emergência (como os incêndios).
O CENÁRIO
Nos habituamos a conviver com os contrastes. Como o de um complexo de favelas sem saneamento básico porém, com teleférico; de uma garbosa ponte estaiada sobrepondo um mar de veículos em vias congestionadas; de painéis decorativos sendo religiosamente repostos ao serem danificados, com a finalidade de esconder a feiura da pobreza e com modernas fábricas de carnaval sem a preocupação com as condições de trabalho.
Não é pensar “grande” esquecer que a cidade naufraga a cada verão. Tampouco é pensar no futuro fingir que os zumbis drogados pelas ruas nunca invadirão as universidades.
É necessário uma visão holística. Menos teórica e mais realista. Menos contaminada com as fantasias do carnaval e mais sintonizada com o mundo sem caricaturas.
Pesquisa e tecnologia devem ser somadas a justiça social. Não dá pra dormir, sonhando com o futuro, enquanto semelhantes caminham para o abismo. Sambam no carnaval e dançam na vida.
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