|
Final de samba enredo na Mangueira |
Julgadores:
Módulo 1 - Alexandre Wanderley
Módulo 2 - Alice Serrano
Módulo 3 - Marta Macedo
Módulo 4 - Maria Amélia Martins
Império da Tijuca - 9,8 / 9,9 / 9,8 / 9,8
Segundo o julgador Alexandre Wanderley, o samba trouxe melodia que conquistou nota máxima, porém a letra apresentou falhas em combinação a certos desenhos melódicos, em que os versos não estavam perfeitamente entrosados (excesso de sílabas para pouca melodia) "é o fervo que desce a ladeira/o batuque levanta a poeira", o mesmo ocorreu com o verso "conquistou a nobreza", várias alas deixaram de cantar esta parte do samba, o que penalizou a escola. Alice Serrano justificou problemas em versos da segunda estrofes, "truncados", o que atrapalhou o canto da escola. Marta Macedo penalizou a escola com dois décimos perdidos, onde a melodia da segunda estrofe, embora mais densa que a primeira, é difícil de cantar, houve problemas de métrica e dificuldade do canto foi acentuada e notada especialmente nos versos 4 a 12 da segunda estrofe. Maria Amélia Martins justificou que o excesso de palavras terminadas em "ao" na primeira estrofe acarretou a perda de um décimo, seguida da perda de mais um décimo na melodia. A julgadora do último módulo observou muitas variações com mudanças repentinas da melodia e o samba cantado muito acelerado atropelando algumas palavras que não foram ouvidas pela julgadora.
O Império da Tijuca, sabendo das dificuldade de se comunicar com o público, de uma escola que vem do acesso, e é a primeira a desfilar no domingo de carnaval, com uma Sapucaí, completamente fria, se preocupou em levar um samba quente, pra cima, "veloz", talvez, tenha exagerado na dose.
Grande Rio - 9,7 / 9,8 / 9,6 / 9,6
O julgador Alexandre Wanderley avaliou que embora o enredo faça uma rápida menção ao índio, o tema é abordado nos últimos quatro versos da primeira estrofe, o que pareceu incoerente, versos com problemas de construção tais como, "do amparo à devoção" e "o meu lugar, seu nome da terra brotou Maricá" com resultado estético ruim, versos da segunda estrofe apresentam pouca coesão entre si; o samba ainda apresentou falta de riqueza melódica prejudicando o canto e a dança dos desfilantes. Alice Serrano percebeu problemas na poesia pouco criativa, com rimas não originais, além da descontextualização do verso "o couro vai comer", que embora tenha empolgado, estava totalmente fora da proposta poética do samba da Grande Rio, e por fim, faltou unidade melódica. Marta Macedo analisou que a letra da primeira estrofe é confusa, e existem ainda versos deslocados na letra, que em nada acrescentam à sua beleza poética, a letra como um todo carece de tratamento poético e estético, Marta percebeu ainda, um desequilíbrio entre os refrões melodicamente superiores às duas estrofes. Maria Amélia Martins justificou que a letra lhe pareceu genérica, excesso de rimas iguais na mesma estrofe, falta de criatividade, problema no último refrão que pareceu clichê, o verso "o couro vai comer" foi visto como vulgar a um enredo lírico, e melodia previsível.
A vontade de se escolher um enredo patrocinado, de uma história com riscos de se causar pouco rendimento era evidente no enredo, a proposta da escola estava em compensar essa debilidade no luxo, criatividade, poder financeiro, onde, o samba não acompanhou essa estratégia. Um samba que será facilmente esquecido por Caxias.
São Clemente - 9,6 / 9,8 / 9,8 / 9,7
Segundo Alexandre Wanderley a letra apresentou problemas de poesia e beleza geral, como por exemplo no verso "a fome de amor faz meu sonho sonhar", problemas também com excesso de rimas terminadas em "ão" na primeira estrofe, além de pouca criatividade; já na melodia, apresentou refrões funcionais, mas os desenhos melódicos das estrofes não foram suficientemente elaborados. Alice Serrano analisou um pequeno problema de criatividade na letra, já na melodia faltou um momento de impacto, de explosão, com refrões "mornos". Marta Macedo analisou que a letra é comum demais, com pouca beleza poética. Maria Amélia Martins observou que faltou ficar explícito na letra a irreverência, o espírito, a manimolência da favela, a letra acabou comum demais, e melodia oscilante em diversos momentos do samba.
A São Clemente trouxe um samba bastante agradável ao canto, "leve", porém a falta de um refrão imponente, e utilização de rimas pouco criativas causam, de fato, problemas na avaliação geral da obra. O samba não utilizou, ainda, toda irreverência costumeira da escola para se diferenciar, entre "monstros sagrados" que circularam por outras agremiações este ano.
Mangueira - 9,9 / 10 / 9,9 / 10
Alexandre Wanderley observou que o samba apresentou problemas de melodia na segunda estrofe faltando um pouco mais de variação melódica, sobretudo nos primeiros versos. Marta Macedo destacou onze ocorrências de rima em "ar" ou "a" (têm o mesmo efeito sonoro), tanto na primeira como na segunda estrofe, isso comprometeu a criatividade, originalidade e beleza poética por ser uma rima muito comum.
A análise de Marta Macedo me faz refletir de como deve ser árdua a missão de compor um samba enredo que atenda a tantas expectativas, seja de comunicação com o público, funcionalidade, técnica propriamente dita, apelo popular, gosto da comunidade, tradição e identidade com a escola a que representa, beleza poética, compromisso com o enredo, enfim... esses caras merecem ser deveras aplaudidos! Grande samba da Verde e Rosa!
Salgueiro - 9,9 / 10 / 10 / 10
Alexandre Wanderley observou que o samba não rendeu tudo o que prometia na avenida, a utilização de seis verbos na segunda estrofe "é/querer/aprender/cuidar/saber/preservar" causou problemas na letra, além da repetição da frase "canta Salgueiro" nos versos finais do refrão principal.
Quando em outra oportunidade, analisei os sambas enredos desta safra já havia atentado ao risco da repetição do verso "canta Salgueiro", que já me parecia bem excessivo e desnecessário, para esta bela obra. No mais, um dos melhores sambas que passaram na Sapucaí em 2014.
Beija-Flor - 9,6 / 9,8 / 9,6 / 9,5
Alexandre Wanderley avaliou que não houve problemas na melodia do samba, os quatro décimos perdidos no primeiro módulo de julgadores, se deu por conta da falta de comunicação com o público, o verso "erguer a Torre de Babel" parece sintetizar essa dificuldade. Na primeira estrofe há desconexão entre os versos. O verso "um lado a comunicar, o outro comunicou" só é compreensível para quem lê o livro abre-alas, soa forçada a rima dos versos finais "vem, a festa é sua, a festa é nossa, de quem quiser/mostra que babado é esse de samba no pé". Alice Serrano analisou que faltou conteúdo à letra, além de trechos questionáveis como "sonhar o sonho de um sonhador", "um lado a comunicar, o outro comunicou", "leva desejo divino, divino desejo me leva", "mostra que babado é esse de samba no pé". A justificativa de Marta Macedo pode ser sintetizada pela estética pobre e falta total de beleza poética, com uma melodia previsível e pouco original. Maria Amélia Martins justificou problemas na letra quando tratou da "Torre de Babel", a letra também se perdeu no universo "global" que comprometem a beleza do samba, vulgarizando-o. A letra também perdeu em beleza e criatividade, a julgadora definiu que 80% do que se passou na letra do samba foi em referência a Rede Globo e 20% sobre a história da comunicação que poderia ter sido mais explorada na letra, já na melodia, os desenhos melódicos são fracos e os refrões monótonos.
Alexandre Wanderley sintetizou muito bem os graves problemas deste samba tão justamente mal avaliado pela crítica, e tão "defendido" como "perseguição à escola" pela diretoria e torcedores. Quando publiquei neste blog que o samba era no mínimo medíocre, disseram que eu perseguia a Beija-Flor, que não gostava da escola, que estava com medo, e o pior: que era um excelente samba e que iriam provar isto na Sapucaí. Só que não!
E por mais que a comunidade nilopolitana tenha se esforçado em defender "que babado é esse de samba no pé", o verso não convenceu!
O samba deu a entender que a Beija-Flor tentou homenagear a Rede Globo, via Boni, passando pela comunicação, o que soou estranho, complicado, de mau gosto, com uma falta de respeito a história de bons sambas que a Beija-Flor possui em sua grade.
Mocidade - 9,8 / 10 / 10 / 10
Problemas de riqueza poética e de inventividade na letra foram os responsáveis da perda de um décimo na nota dada pelo julgador Alexandre Wanderley, que penalizou ainda a melodia, que com refrões funcionais, as estrofes não apresentaram os mesmos resultados, acarretando problemas de canto nas alas 3, 5, 12, 18, 22 e 33.
União da Ilha - 10 / 9,7 / 9,7 / 9,9
Alice Serrano analisou que a letra apresentou problemas de entrosamento no desenho melódico, a construção melódica também deixou a desejar. Marta Macedo justificou que a letra do samba apresentou versos soltos, versos do refrão principal são comuns, e problema no verso "perder ou ganhar, ganhar ou perder", e melodia previsível. Maria Amélia Martins analisou que o refrão do meio não impactou deixando a desejar uma obra que deveria ser mais alegre.
A Ilha levou um samba sem grande pretensões, mas que por fim, propiciou ao componente, o que é raro de se ver hoje em dia: brincar de carnaval! Já as notas, aí é aquele desafio constante dos compositores, que já citei quando analisei a Mangueira. E viva a União da Ilha!
Vila Isabel - 9,7 / 10 / 9,9 / 9,7
Problemas de estética nos versos da primeira estrofe, difícil compreensão do verso "o branco verdejou" no refrão do meio, além de problemas de melodia que de modo geral os desenhos melódicos não contribuíram para entusiasmar o componente. Marta Macedo problema de estruturação da letra nos versos da segunda estrofe, dificultam o entendimento do enredo para o público. Maria Amélia Martins justificou que alguns versos são confusos, o primeiro refrão também é confuso, a segunda estrofe faltou encadeamento dos versos, na melodia faltou mais criatividade.
Imperatriz - 9,8 / 9,8 / 10 / 9,9
O único problema na letra se deu à falta de entrosamento no verso "da Europa ao Oriente", com a melodia, o que levou os intérpretes a praticamente suprimirem do canto a preposição "ao", perdendo assim um décimo, o outro décimo perdido se deu devido ao desenho musical que segundo Alexandre Wanderley deixou a desejar. Alice Serrano julgou um décimo perdido na letra do samba, dificuldade em alguns versos, além de "quebras" melódicas, e assim configurou-se dois décimos perdidos. Maria Amélia Martins justificou problemas na melodia que precisava de mais um momento de explosão, a melodia ficou aquém à letra, por se tratar de um enredo que tratou da paixão, o futebol.
A Imperatriz reservou-nos um samba para levantar a arquibancada sem grandes pretensões, causou boas impressões, além do que eu esperava particularmente, o péssimo desempenho do intérprete Wander Pires, talvez, tenha prejudicado a obra.
Portela - 10 / 10 / 10 / 10
Parabéns Portela! Que segue no resgate aos grande sambas deste país, numa sequência quase que absoluta de grandes obras nos últimos anos!
Tijuca - 9,7 / 9,8 / 9,8 / 9,9
Alexandre Wanderley analisou que o samba carece de riqueza poética, além da falta de sentido no verso "a internet ultrapassou a energia", e ainda, o desenho musical da segunda estrofe apresenta pouca variação melódica. Alice Serrano percebeu problema no conjunto dos versos que lhe pareceram em "pedaços", o que também ocorreu com a melodia. A justificativa de Marta Macedo se resume em: carência estética e poética da obra, melodia previsível, sem muita originalidade musical. Segundo Maria Amélia Martins a letra não teve um grande momento, ficou sem emoção, versos simples e sem beleza.
Embora esse fosse um dos meus "xodós" ao lado do samba da União da Ilha, sempre me perguntei de onde foi tirada a ideia de que 'a internet ultrapassou a energia', vale ressaltar que este verso foi modificado pela escola depois da escolha do samba, que originalmente não trazia este verso.
Os enredos e desfiles defendidos pelo carnavalesco Paulo Barros, embora de bom gosto, não têm servido a disposição de grandes sambas, o que tem causado problemas neste quesito, para beleza poética e boa estética das obras.