terça-feira, 20 de maio de 2014

A tumultuada eleição no Império Serrano, e o futuro do samba na Serrinha

Desfile do Império Serrano 1982
Império Serrano 1982
De volta às manchetes do mundo do samba, mas desta vez não por sua admirável história que marcou época no carnaval deste país e foi capaz de arrematar nove campeonatos , e sim pela desordem e incompetência das últimas administrações que levaram o glorioso Império Serrano a um lugar que não lhe pertence, a escola sofre agora com um imbróglio processo eleitoral.

Com a alavancada financeira que as agremiações sofreram na década de 90 e início dos anos  2000, a escola da Serrinha por vários motivos não acompanhou esse "difícil" momento que envolveu tradição e modernidade, e com o passar dos anos  foi perdendo fôlego nas disputas desde seu último título na elite do carnaval, em 1982, naquele apoteótico "Bumbum Praticumbum Prugurumdum" de Rosa Magalhães e Lícia Lacerda que embalou o público na voz marcante de Quinzinho. 

O fato é que, chegou onde chegou: grupo de acesso sexta colocação em 2014. A escola mesmo num vai-e-vem entre grupo especial e acesso que marcou esses últimos 25 anos, nunca permaneceu tanto tempo fora da elite do carnaval carioca, já serão seis carnavais em 2015, e isso não é pouco para uma escola com as credenciais e importância cultural que tem o Império. Faz falta, por sentimos Silas de Oliveira, Jovelina Pérola Negra, Mano Décio da Viola, Beto Sem Braço e tantos imortais nos ares imperianos da Serrina, faz falta pelo sorriso caloroso de Dona Ivone Lara e a paixão de Arlindo Cruz, faz falta pela beleza incomparável da sempre rainha Quitéria Chagas. Faz falta pela  Sinfônica Imperial, com seu inconfundível agogô, faz falta pela tradição que emana dos poros do torcedor... simplesmente faz falta!

A retomada da agremiação ao lugar que lhe é seu, o grupo especial, passa por uma reestruturação inevitável da gestão administrativa da escola e da produção do carnaval, exatamente na forma de se pensar o desfile. Nestes últimos anos de grupo de acesso, a escola nunca esteve tão abaixo do esperado e conquistado em sua história, foram três sextos lugares em cinco anos, sua pior colocação em todos os tempos, e é bom lembrar que parte desse resultado que ainda acopla um terceiro lugar e um vice-campeonato, foi parte da atual administração, mas foi também parte da administração passada, que tenta retomar o comando da escola.

Numa tumultuada eleição, situação e oposição vem tentando marcar seu espaço num desastroso caminho, que neste momento me parece inevitável, mas que faz mal ao samba, faz mal a história da escola, faz mal para o coração do sambista.  A disputa que foi parar na justiça, com direito a liminar e tudo o que se tem direito, é simplesmente covarde com o povo imperiano. E esse hábito, de se achar que escola de samba é propriedade particular vem se repetindo nas agremiações, Mangueira e Portela passaram por isso recentemente, e diga-se que bem fez a mudança para essas duas agremiações, a de Oswaldo Cruz e Madureira até com um digno terceiro lugar com gosto de vitória em 2014.

Estas mal traçadas linhas não tratam de defender qualquer uma das chapas inscritas, ou avaliar a questão jurídica que tem entre seus pontos altos:

  • a suspeita de fraude relativa à inscrição de novos associados, já que o número cresceu de 1.500 para 4.500 sócios desde a última eleição;
  • os balancetes de 2012 e 2013 que não foram apresentados, e tendo sido o de 2011 devolvido para retificação;
  • suspeitas de irregularidades na atual administração e,
  • a possível impossibilidade das chapas inscritas de disputarem as eleições que ocorreriam neste último 18 de maio.
O que se propõe este texto, é uma reflexão sobre a importância de se sobreviver a esta avalanche de denúncia e denuncismo criado por ambas as partes que, em nada contribuem para o crescimento da escola. A Justiça foi acionada e deve cumprir seu papel como o fez com a Estação Primeira de Mangueira em seu último e também tumultuado pleito eleitoral, dando legitimidade e afastando qualquer tentativa de fraude a este processo, que é exclusivamente da democracia.

Qualquer uma das chapas que vença este complicado processo eleitoral, seja da ex-presidente Vera Lúcia que uniu a oposição em torno de si, seja a chapa apoiada pelo atual presidente Átila Gomes, o que deve sobrar desta acirrada disputa é o amor com responsabilidade ao Império Serrano, seja por seus baluarte, seja por suas crianças, e que seja pela tradição, palavra nem sempre valorizada neste mundo hollywoodiano que se tornou o carnaval brasileiro, do qual o Império se recusa a participar, mostrando que não há nada mais importante do que o samba.

O que trago de lembrança do querido Império Serrano é exatamente expresso em seu samba de 2006:

O meu Império é raiz, herança
E tem magia pra sambar o ano inteiro
Imperiano de fé não cansa
Confia na lança do Santo Guerreiro
E faz a festa porque Deus é brasileiro



E como já registrou o poeta de Mangueira: o samba, agoniza... mas não morre!

Vamos Império Serrano, Essa É A Hora!











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