Sem ele, seria um desfile muito bonito – mas sem aquele “algo a mais” que delimita a fronteira entre um desfile histórico e um desfile comum. Há alguns anos, escrevi neste espaço que a decadência do samba-enredo insere-o na teoria da morte da canção. À luz do terceiro título da escola de Noel, gostaria de retomar este assunto, para iluminar ainda mais este momento do Carnaval.
Vila Isabel
O crítico musical José Ramos Tinhorão criou a expressão “morte da canção” no primeiro ano deste século; Chico Buarque deu-lhe dimensão ao encampá-la em entrevista à Folha de São Paulo, três anos depois. Por morte da canção entende-se a transformação que rompeu com os fundamentos com os alicerces que desde a década de 30 fundamentaram a música brasileira. Essa transformação é impulsionada por inovações tecnológicas e por mudanças de concepções estéticas e sociais.
Vila conquistou terceiro título de sua história
Adaptando a teoria ao samba-enredo, explica-se o quadro atual. A singularidade do samba da Vila Isabel deste ano é tanto pela beleza da obra, pela qualidade da letra, da melodia, mas também por ser funcional, palavra da moda para resumir a adequação aos tempos modernos, ou seja, a capacidade de proporcionar à escola um bom desfile. Por unir estética e funcionalidade, o samba-enredo da Vila Isabel oxigenou o carnaval do Rio – e o cérebro de quem acha que o samba é um dos principais componentes da linguagem das escolas de samba.
Vila Isabel
Por Bruno Filipo.
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