Por Claudio Russo, colunista do site SRZD.
Mangueira |
Em Mangueira a poesia fez-se um mar se alastrou... E foi buscar do outro lado do tenebroso oceano, Avenida Atlântico, via forçada de nossos ancestrais, as raízes de nossa música, nossa cultura africana, que é Bambara e é Haussá, mas também é Nagô e Jeje, é Brasil em cada veia, parafraseando a luz de Luiz Carlos, e é Oxalá, se tornou Tupã quando quebrando as correntes cruzou os sertões, qual bicho do mato se embrenhou e criou a utopia quilombola, Salve Zumbi, Palmares vive, Viva Mangueira, Estação Primeira dessa negritude.
Vou festejar na tribuna popular do carnaval o reencontro do samba com seus alicerces e a beleza que ressoa do encontro de duas instituições sedimentadas na luta de resistência. Muito mais que um tema, Sou Cacique, Sou Mangueira! Resgata um histórico tão nosso, tão intimamente ligado à Batucada dos nossos tantãs... E mesmo assim tão depreciado em virtude de escolhas menos carnavalescas, a história de nossa festa maior está em desfile.
Será que a primeira yakekerê do terreiro de João Alaba, filha de Oxum, um dia imaginou a proporção que tomou a pequena África, quem mandou cutucarem a onça com vara curta. E por falar em onça, aquela do Bafo famoso e um tanto sumida, deve está morrendo de vontade de travar mais uma batalha de confetes com a tribo rival, olha meu amor esqueça a dor da vida...
Podemos sorrir nada mais nos impede, posto que a sombra desta tamarineira se eleva à eternidade de um desfile em verde rosa, lógica fácil de entende, isso é Mangueira, semente viva pelo reconhecimento de nossa cultura. Okê Arô Odé sei que esse Cacique é protegido, é melhor se segurar, pois, a sua história se confunde com a trilha sonora recente desta cidade. E por mais claudicante que possa parecer o samba, em alguns momentos, negligência não se for apanhar meu violão, isso é Ginga, coisa de pele, é cintura de mola na malemolência carioca.
Sinopse linda, poética na medida certa, coisa de gente grande, um primor, viga mestre de um projeto que já nasce com o dom de brilhar, sem palavras. Sei Lá Mangueira, Sei Lá... Não sei não...
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