quarta-feira, 29 de junho de 2011

SINOPSE DA MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL

Justificativa

Ao escolher Candido Portinari como tema, a Mocidade Independente vem celebrar um dos maiores nomes da pintura brasileira no cinquentenário de seu desaparecimento.

Através de suas mais importantes obras, mostraremos a trajetória este artista que acima de tudo retratou em seus quadros e murais, a história, o povo e a vida dos brasileiros, através dos traços fortes e vigorosos carregados de dramaticidade e expressão.

Esta homenagem escrita em forma de poema é a maneira mais digna encontrada para festejar este mestre que além de pintar também foi poeta e que entre outras manifestações artísticas soube tão bem ilustrar com seus desenhos os poemas de Carlos Drummond de Andrade, seu grande amigo e parceiro na versão do livro “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes.

Por fim é a Mocidade Independente que se orgulha em levar para o desfile um pouco da obra imortal de Portinari ao conhecimento do grande povo, aquele que sempre foi a sua grande fonte de inspiração.

Num voo mágico, viaja o samba,
a conduzir meu povo feliz
em seu viajante sonho.

Solto no universo garboso, prosa em verso,
na fantasia a se tornar realidade,
leva os tambores da felicidade,
para despertar o artista na morada celestial.

Ó mestre, ergueis do sono esse quadro vazio.
Sua obra vive no cantar de nossa gente.

Põe nas tuas mãos o teu instrumento,
tua tela hoje é o firmamento,
que a arte se deixa tingir o breu da noite,
com um colorido de festa,
a aquarela do carnaval.

Vai, reinventa mais um lúdico céu.
Pinta por nós a nossa estrela,
tu que pintaste tanto a Mocidade,
deixa a tua mão deslizar Independente.

Hoje, somos as tintas que envolvem
as cerdas do teu pincel, e que,
na mistura das cores, por ti, Portinari,
rompem a tela para a realidade
e brilham no samba de Padre Miguel.

Hoje, uma moldura viva e humana
enquadra a tua história na pista,
e teu traço se refaz nos pés,
no passo do sambista,
que vai riscar murais de sonhos
e estampar retratos,
cena dos Brasis que tu desenhastes.

À luz da inspiração, vem fazer reluzir em nossa mente
a cândida infância de tua Brodowski querida,
e reflorescer os campos com suor da lida,
dos mestiços viris a lavrar a ampla terra.

“Entre o cafezal e o sonho”,
vem reunir retalhos e as lembranças coloridas,
como as dos espantalhos a oscilar na brisa,
serenos sobre as plantações.

Hoje, é um tempo que não passa.
Um turbilhão, um vento que sopra,
que varre e traz recordações,
e que vem devolver a ti a meninice.

Somos nós os teus meninos,
sem rosto, anônimos na multidão,
que fazem girar o teu mundo
num rodopio frenético,
como se fossem um pião,
tal como um caleidoscópio
a transmutar em formas a tua imaginação.

Somos a quimera límpida,
que balança livre num céu pontilhado,
às vezes, de pequenas pipas e balões.

Viemos abrir o teu coração
e revelar esse tal sentimento,
que subjugou a estética,
ao adulterar a técnica pela arte livre,
carregada de emoção.

Nessa força da cor que se imprime,
se diluem teus nativos,
descobridores, heróis desbravadores,
fauna e flora a percorrer paredes
como ciclos, desvendando a história,
o caminhar dessa nação.
Nesta hora, trazemos a alegria
pintada em nossas caras.

O suor que transpira
sob as luzes deste palco
é a nossa emoção que transborda,
ainda que exale de nós
a têmpera do mesmo povo sofrido,
do caminhar errante,
em busca da terra prometida, a vitória.

Imagina nós, os retirantes,
embora a esconder a face dura da vida,
como tão pungente retrataste,
dando o tom da cor às palavras
de “Guimarães” e “Graciliano”,
a cor da dor, escassa,
como a secura da terra do cangaço,
por vez, na força do traço,
a bravura sertaneja.

A nossa odisséia e a nossa missão
é cantar-te, nosso estandarte, a glória,
como quem procura buscar nas alturas a prova.

Somos cenas bíblicas,
tal qual as que interpretastes,
nos vemos Santos,
Anjos olhados por Deus,
a voar nos céus azulejados.

Viemos aqui à luta,
contra o inimigo invisível,
os moinhos de vento
de uma aventura inventada.

À sorte, nos imaginamos fortes,
como o arauto sonhador
a rabiscar no papel uma estrada escrita
num poema de “Drummond”.

Somos “Dom Quixote De La Mancha”,
a empunhar a lança feita de lápis de cor.

Enfim, somos todos iguais esta noite,
como aqueles tantos que tua mão desenhou.

Somos o samba, o morro,
a favela, a dança, a música,
o contraste social,
trabalhadores do sonho,
assim como os da vida real.

Vamos à luta,
temos as caras das tuas caras,
o autorretrato da tua alma.
Somos todos em um,
a tua lembrança viva,
a eterna Mocidade,
modernista, revolucionária e guerreira
que, aqui neste momento,
ergue a ti um monumento,
um imenso mural,
pintado com a nossa alegria,
na batalha feliz deste dia,
“Guerra e Paz” do carnaval.



Alexandre Louzada

Carnavalesco





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