quarta-feira, 3 de julho de 2013

Bruno Filippo analisa impacto das eleições em Mangueira e Portela

No lugar das páginas que lhes manchetavam problemas, crises, denúncias, escândalos, desfiles medíocres e péssimas colocações, as duas mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro começam a reescrever sua história recente em papeis ainda com muito espaço para serem escritos, mas cuja leitura do rodapé parece promissora àqueles que, sem se prenderem ao saudosismo, não conseguem desvencilhar a potência artística do carnaval carioca da força de Mangueira e Portela - e, também, de Império Serrano e Salgueiro, as quatro grandes que, a partir de 1976, perderam poder para as emergentes Beija-Flor, Imperatriz e Mocidade. 

A eleição que, depois do carnaval, renovou a presidência das duas escolas alimenta nos torcedores, na imprensa especializada e nos amantes a esperança de carnavais mais gloriosos.

Nova Mangueira


A expectativa não é à toa. E é tão maior quanto o tamanho da ladeira que Mangueira e Portela desceram nos últimos anos. Nesse sentido, a tarefa da nova diretoria da verde-rosa é, comparada à da coirmã de Madureira, menos complexa. Sem conquistar título desde 2002, a Mangueira entrará na avenida ostentando um jejum de 11 anos - o maior de sua história. Já a Portela carrega fardo bem maior: seu último título sozinha, como convém às grandes, data do longínquo 1970.

Mas essa é a menor das diferenças: enquanto a Mangueira, catapultada pela força popular e por simpatias políticas, mantinha-se, ainda que com muito custo, no círculo hegemônico das grandes e poderosas escolas, a Portela viu seu prestígio esvair-se. (Ganha um cartão do metrô para a próxima passeata quem disser, sem pestanejar, o último ano em que a Portela pisou na Sapucaí como grande favorita ao primeiro lugar).

Neste inverno carioca de julho, o rodapé das novas páginas, que está sendo escrito com tudo o que das duas agremiações se espera para 2013, já permite até apontar um certo favoritismo da Mangueira, que além de contratar a carnavalesca campeã do carnaval, Rosa Magalhães, escolheu um enredo muito bom, de fácil entendimento e que se coaduna muito bem com a estética da carnavalesca.

Além disso, como carnaval não está separado da sociedade, mas nela inserido, com seus vícios, virtudes e vicissitudes - parece óbvio, mas ainda há os que veem nos festejos carnavalescos algo à parte -, o prestígio político do mandatário da escola tanto na Liga quanto nas esferas estadual e municipal é muito alto, e isso faz a diferença.

Nova Portela
O rodapé da Portela é um pouco mais difícil de escrever. De há muito que não se acompanhava uma eleição em escola de samba com tanto interesse - e que a derrota de um presidente não era tão festejada. Porém, apesar da escolha de enredo histórico e cultural, falta à recém-empossada direção da Portela - Serginho Procópio e Marcos Falcon - a mesma articulação política de Chiquinho da Mangueira, o que a fará trabalhar arduamente para não acontecer o pior: a decepção do portelense. E, repita-se, a diferença entre a possibilidade e a probabilidade de decepção está no tamanho da expectativa. O que, em verdade, já é uma grande transformação numa escola que, de protagonista, passou conformada a coadjuvante.

Por Bruno Filippo, jornalista e sociólogo

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