segunda-feira, 1 de abril de 2013

Análise das justificativas do Carnaval 2013 sob o olhar de Leonardo Bruno II

Carnaval 2013

Não me canso de falar da importância do julgamento para os destinos do carnaval. É ele que determina os rumos da festa. Por isso acho ruim que os julgadores falem tão pouco, que não se exponham, que fiquem enclausurados: eles são figuras fundamentais da disputa, e devem dialogar com os demais personagens do carnaval (escolas, público, imprensa, artistas). E é isso que faz o momento da divulgação das justificativas tão importante: é através delas que os jurados falam (veja aqui o arquivo completo)! Quanto mais opinarem em outros fóruns, quanto menos caixa preta for o julgamento, menor vai ser a carga feita em cima dessas folhas – que é cruel, cá entre nós, já que é muito difícil justificar um julgamento artístico tão complexo naquelas linhas exíguas.
Mas, se é através delas que eles falam, vamos às justificativas. Peguei dois quesitos para analisar primeiramente, evolução e harmonia, que têm uma ligeira ligação entre si, e que são objeto de muitas dúvidas sobre a forma de julgamento. Além disso, este ano houve reclamações sobre algumas notas, como a falta de punição a um buraco da Beija-Flor e o excessivo rigor com a harmonia da Mocidade, uma das escolas que mais cantou na Avenida. Vamos à análise mais detida das justificativas divulgadas nesta quarta-feira no site da Liesa.
EVOLUÇÃO 
- Jurada Salete Lisboa
Algumas justificativas me causaram estranheza, como estas:
"A ala das baianas em algumas de suas fileiras apresentou excesso de espaço entre suas integrantes, prejudicando sua exibição". (INOCENTES)
"Pude observar que a ala 19 aos 39 minutos teve uma embolada entre suas fileiras, prejudicando sua evolução". (MOCIDADE)
Vejam bem, amigos, em primeiro lugar o conceito de fileiras é algo extremamente nocivo às escolas de samba, e deveria ser punido, em vez de defendido, como nestas justificativas. Um "embolamento de fileiras" de uma mesma ala, como no caso da Mocidade, NÃO deve ser punido pelo julgamento. Pelo contrário: é DESEJÁVEL que, dentro de uma ala, os componentes possam se movimentar livremente, brincando o carnaval; afinal, essa é a essência da festa, ou não? Da mesma forma, um espaço entre as "fileiras" da ala das baianas também não deve prejudicar a exibição da ala. A espontaneidade do carnaval não admite fileiras. E o jurado deveria ser o principal guardião disso.
- Jurado Luiz Eduardo Resende
Ressalto essa justificativa em relação à Inocentes de Belford Roxo: "Nas alas anteriores à bateria, falta de empolgação, de criatividade". Não consigo compreender o que é ter criatividade na evolução.
- Jurado Carlos Pousa
"Coesa e fluente, a escola perde um décimo na empolgação em comparação com as melhores". Esta mesma justificativa foi utilizada para quase todas as escolas que não tiraram 10 (variando apenas se a punição era de um ou dois décimos): Imperatriz, São Clemente, Portela, Mocidade, Ilha, Tijuca e Salgueiro. O texto era rigorosamente igual para todas as agremiações. Levando em conta que o júri tem um papel "didático", ou seja, deve registrar erros e acertos para que o documento sirva de preparação para o carnaval seguinte, essa justificativa de nada serve para as agremiações.
Para Carlos Pousa, a Grande Rio foi uma das três escolas que merecem a nota 10. Como a justificativa para todas as outras notas foi a falta de "empolgação em comparação com as melhores", deduz-se que Pousa achou a Grande Rio extremamente empolgada em seu desfile. Nesse caso, vale a comparação com a justificativa da Grande Rio feita pelo jurado Luiz Eduardo Resende, que ficou no módulo à esquerda de Pousa: "A frente da escola já não estava muito animada. Faltou ousadia, criatividade. Nem as duas alas à frente da bateria conseguiram incendiar o desfile, bastante burocrático. Terminou como começou: sonolento".
- Jurada Sonia Gallo
Sem observações
HARMONIA
- Jurada Célia Souto
Aqui também observa-se uma diferença enorme nas avaliações da escola Grande Rio. Enquanto para a jurada Célia Souto a harmonia da Grande Rio mereceu nota 10, o jurado Sidnei Dantas, que fica na cabine à sua direita, considerou a segunda pior harmonia do ano, com nota 9,6, apresentando "pouca garra e vibração, canto pouco fluente, não permitindo um desempenho satisfatório de sua harmonia".
- Jurado Sidnei Dantas
Foi o único que tirou merecidos pontos da Unidos da Tijuca pelo barulhão que saía de seu abre-alas.
- Jurada Simone Leitão
A jurada Simone Leitão foi a única que tirou merecidos pontos da guerra de vozes provocadas pelo excesso de intérpretes em algumas escolas. No caso, foi a Inocentes de Belford Roxo, com Thiago Britto e Wantuir (mas outras também mereciam). Veja a justificativa dela: "Múltiplas palavras de incentivo e gritos de empolgação do intérprete sobrepujaram a melodia principal e a compreensão do canto"
Veja outro motivo de perda de pontos da Inocentes: "Ornamentação melódica dos cavacos com progressões harmônicas e cromatismos ascendentes e descendentes que afetaram o equilíbrio harmônico para sustentação do canto, função principal dos instrumentos". Incompreensível.
- Jurado Nilton Rodrigues
Todas as justificativas são idênticas, com "tonalidade mantida" e "canto e ritmo bem entrosados" em todas as agremiações. Sim, todas, sem exceção. Todas as 12 escolas mantiveram a tonalidade e tiveram entrosamento de canto e ritmo, sem nenhuma gradação de qualidade entre elas. Suas notas só punem a ausência de canto, e aí há uma extensa lista das alas que não cantam em cada escola.
Termino a análise destes dois quesitos com a espirituosa frase de Nilton Rodrigues na justificativa da Mangueira: "A escola correu a partir dos 70 minutos, e cantar correndo é difícil, todos nós sabemos".

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