Jamelão |
Cantores do Carnaval reverenciam memória da eterna voz da Mangueira
De todas as vozes que passaram pela Sapucaí, Jamelão será sempre a mais marcante delas. Lendário intérprete da Mangueira, o cantor completaria 100 anos se estivesse vivo neste domingo. Admirado por muitos e respeitado por todos, Jamelão foi um "filho fiel" e até hoje sua memória habita o mundo do Carnaval.
Apesar de não ter feito sucessor na verde e rosa, o cantor, que morreu em junho de 2008, aos 95 anos, continua sendo referência para diversas gerações de intérpretes. Jamelão nunca abriu mão da eterna busca por um maior reconhecimento para os "puxadores de samba-enredo", termo sempre reprovado por ele. Sobretudo, os companheiros de profissão pediam mais.
No centenário do mito, discípulos de todas as idades fazem questão de exaltar o legado deixado pelo mangueirense.
Neguinho da Beija-Flor, 63 anos
"O Jamelão é o meu mestre, o mestre de todos nós. Era uma pessoa fechada e às vezes penso que eu era o único que tinha uma intimidade maior, de encostar, de estar mais junto. Tínhamos uma grande relação. Meu pai e ele trabalharam juntos na Orquestra Tabajara e ele sempre me tratou muito bem. Deixou um grande legado entre nós, nos fez valorizar ainda mais essa nossa função. Esta conotação de "puxador" foi criada propositalmente para que não fossemos remunerados e ele sempre buscou deixar isso para trás, sempre quis fazer nossa função ser mais
reconhecida. Antes de morrer ele chegou para mim e disse: "Meu filho, vou te fazer um pedido. Não deixem te chamar de puxador. Você é o meu sucessor e não podem te chamar assim. Você é um intérprete". O Jamelão é o Papa do samba."
Leonardo Bessa, 36 anos - Intérprete do Salgueiro
"O mestre Jamelão sempre será referência para os intérpretes de qualquer geração. Para mim, especialmente, sua vitalidade e talento, enquanto esteve entre nós, serviram e ainda servem como inspiração. O fato dele ter tido, paralelamente, uma carreira reconhecida como cantor da MPB também é algo muito admirável, já que grande parte da mídia parece desprezar alguns dos talentos da atualidade, rotulando apenas como "Puxadores de samba-enredo".
Leandro Santos, 29 anos - Intérprete da Estácio de Sá
"Minha convivência com o Mestre sempre representou um grande aprendizado. Eram palavras sábias, conselhos, uma grande diversão. Era uma pessoa que gostava de conversar, tinha um bom coração. Me sinto feliz por saber que ele gostava de estar perto de mim, às vezes, apenas para fazer companhia sentado lado a lado. Tenho uma saudade imensa e me sinto honrado de poder ter cantado seis anos da minha vida ao lado de um grande ícone do samba. Em nossas conversas, ele me ensinou que para ser um bom cantor, é preciso ser um bom apoio, respeitar para ser respeitado e sempre fazer o bem. Levo isso sempre comigo. Ele deixou
saudades, sinto muita falta, mas sei que está em um bom lugar."
Zé Paulo, 37 anos - Intérprete da Viradouro
"Não o conhecia pessoalmente, só tive apenas um contato com ele. O que posso dizer é que, como todos, sempre o admirei como cantor, tanto de samba-enredo como de MPB. Era um grande fenômeno. Chegar à idade que chegou cantando bem é algo muito difícil e ele mostrou que era capaz. Jamelão foi, e sempre será, um grande espelho para todos."
Clovis Pê, 47 anos - Intérprete do Império Serrano
"Mestre Jamelão... Foi um grande aprendizado e que está me ajudando muito até os dias de hoje. Colhi bons frutos de estar sempre ao lado dele. Aprendi a respeitar o profissional, ter e respeitar a ética, procurar fazer um trabalho com dignidade, caráter e sem dar volta em ninguém. Ele sempre foi muito bom para todos, muito responsável também. Algo que também temos que admirar é a lealdade ao pavilhão da escola, ele sempre fez isso com a Mangueira, deixou esta marca.
Cantei com ele de 1999 à 2006 e ele sempre esteve ali me dando espaço, me ajudando. Era uma voz inconfundível, sabia o tom que estava cantando. Ele chegou antes de nós chegarmos, temos que respeitar."
Luizito, 59 anos - Intérprete oficial da Mangueira
"Se eu disser que éramos amigos será mentira. Eu tinha por ele um grande respeito. Cantar ao seu lado foi uma honra inenarrável. Dei sempre o meu máximo para conseguir ajudar, era uma voz incrível, não há o que falar sobre isso. No entanto, era uma pessoa de difícil convivência. Sempre foi muito reservado, mas nas ocasiões em que cantei ao lado dele sempre me tratou com muita fidalguia e eu respondia sempre o respeitando muito. Me espelho no compromisso e na
responsabilidade que ele sempre teve com a carreira, com o lado profissional. É muito difícil cantar em qualquer escola de samba, ainda mais na Mangueira, onde ele fez história. Isto muito me orgulha."
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