Lapa |
A Caprichosos de Pilares apresentou, na última quinta-feira, a sinopse do enredo "Dos malandros e das madames: Lapa, a estrela da noite carioca", de autoria de Amauri Santos, Alex Fab e Jr. Escafura.
No encontro, o carnavalesco Amauri Santos explicou que a sinopse está dividida em quatro momentos: "Primeiro abordaremos a questão do aqueduto, construído por mão de obra negra e escrava. Esclareceremos que o objetivo dos Arcos, na verdade, não era a circulação via bondinho, mas o transporte de água. Depois, entraremos na contribuição da Família Real, que trouxe sua cultura para o Centro do Rio, bem como deu início à sua urbanização".
"No terceiro momento desenvolveremos a virada do século XX, a remodelação do Centro do Rio, quando a Lapa, enfim, começou a ganhar sua marca registrada de boêmia. Encerraremos com a Lapa atual, da década de 80 aos dias de hoje, lembrando sua revitalização e o caráter de mosaico cultural", completou.
Para contar toda essa história, segundo Amauri, um personagem marcante foi escolhido: Madame Satã, malandro e homossexual assumido. Sem datas fixas e outros nomes, a sinopse visou, de acordo ainda com o carnavalesco, "facilitar a vida dos compositores, dando-lhes liberdade total para a criação de excelentes obras".
Confira a sinopse
A Caprichosos de Pilares apresenta com muita malandragem a história de beleza, boemia, corpos, copos e poesias de um lugar que atravessa séculos garbosamente belo, onde antigas construções contrastam com o jeito jovem de curtir a vida.
Arcos e trilhos, choros e risos, histórias e estórias, guardam momentos que o tempo jamais apagará de minha memória, pois vivi neste cenário privilegiado, situações inusitadas de delicadeza e bravura.
Ah! A Lapa... Meu corpo nasceu longe daqui; minha alma nasceu na Lapa. Meu corpo não vive mais, mas minha alma ainda vive nesses becos de hoje, não morreu, nem morrerá. Seguirá viva na memória de cada um de vocês, em cada história que ouvirem daqui.
Fui bela na dança, mas também fui fera na capoeira herdada de meus ancestrais de pele negra, escravos como os que pisaram e semearam culturas neste chão.
Negros com braços fortes e mãos calejadas que ergueram tão belo Aqueduto. Quem diria! Construído para trazer água para o povo, mostrou-se exuberante, “correu para o Rio” e voou para o mundo impresso em cartões se transformando em um dos maiores símbolo desta cidade tão cheia de símbolos.
E a água jorrou em bicas, matou sedes, trouxe dos rios a riqueza e a fertilidade, deixando florescer a cada dia sementes de sabedoria antes aqui plantadas.
Ao som de um sino desacompanhado, sob o olhar da santa, o bairro foi começando a surgir, beirando a única estrada que serpenteava o vale. Desterrando aqui, aterrando ali... Nasceu a Lapa, com direito a passeio e bela vista ao mar.
Dali avistou-se a chegada da família real, trazendo na bagagem culturas, costumes e muitos ideais. Trouxeram também uma enorme contribuição para a urbanização da cidade, abrindo estradas e portos, importando artistas, valorizando a arquitetura e proporcionando grandes avanços culturais.
A boemia já rondava este lugar. Contagiou portugueses festeiros que criaram sociedades carnavalescas, e por serem democráticos, além de realizarem luxuosos bailes, também brincavam pelas ruas. “Ô abre alas que eu quero passar”, assim cantava nosso povo celebrando a liberdade.
Trilhando novos caminhos e criando novas formas de locomoção, surgiu o bondinho sobre os arcos que além de facilitar a subida ao morro deu à Lapa o charme e a marca que faltavam para o nosso cartão postal.
Botando abaixo o antigo e dando espaço ao novo, passo a passo o bairro foi se modernizando e se transformando num afrancesado e charmoso lugar. A Belle Époque carioca exuberou por suas ruas estreitas cheias de virtudes e pecados.
A Lapa ficou famosa sob meu reinado, por seus cabarés, clubes de jogos, restaurantes, botequins e hospedarias, com a noite por testemunha do já tradicional reduto da boemia carioca.
Era aqui que homens cansados, vindos dos mares distantes, aportavam desejos nos bares. “Garçom, traz mais trago!” Entre um afago e outro de vendedores de amores.
Paixões vividas, cantadas em serestas enquanto a cidade dormia. “Abre a janela formosa mulher”, cantavam mil poetas trovadores. E nasciam personagens que ilustraram becos e ruas, deixando histórias populares, e toda uma mística em sua aura.
De baixo da aba do meu chapéu vi a mesma lâmina que feria também refletia a inspiração dos pintores, escritores, compositores, artistas em geral, personalidades que ajudaram a compor o quadro de ilustres que viveram por aqui e por muitas vezes retrataram o cotidiano em suas obras.
Hoje sem terno e sem navalha, mas com a mesma boemia na veia os “novos malandros” se divertem cada um no seu quadrado, são tribos de estilos e gostos, onde a diversidade compõe tão imenso e criativo mosaico cultural.
O clarão que a noite traz, faz com que as mentes se abram e os olhos se fechem para o baixo astral, e para qualquer tipo de preconceito. Classes e cores se misturam, a opção é de cada um, o que todos querem é jogar conversa fora tomando uma cerveja gelada e celebrando a vida onde o lema é :”viver e não ter a vergonha de ser feliz”.
É hora de subir no morro, voar por escadas coloridas, pisando cada degrau de um Brasil construído carinhosamente com pedaços de arte.
Vou em frente, vestido com minha fantasia premiada; quero olhar de cima, ver os blocos passarem colorindo o asfalto e esbanjando alegria com nossas eternas marchinhas de tantos e inesquecíveis carnavais.
Conhecer cada jovem que em minha trilha reinventou tantos novos palcos. Semente desta Lapa fundida e voadora de amores misturados.
Aqui me eternizei sendo protagonista de uma história de arte, malandragem e fé, num lugar onde a vida é vivida intensamente sob os olhares do Malandro protetor que com sua magia e alegria, pede mais um brinde, afinal aqui todo dia é sexta-feira.
A um passo da “Glória”, no ponto maior do mapa reluz a Lapa, a estrela da noite carioca.
Enredo: Amauri Santos, Alex Fab e Jr Escafura.
Amauri Santos - carnavalesco |
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