Palácio do Samba
A Mangueira, tal qual o samba mais famoso do presidente de honra Nelson Sargento, agoniza. Mas não morre. Abalada devido a uma sucessão de escândalos, suposta ligação com o tráfico de drogas e o abandono das tradições, a Estação Primeira está voltando a sorrir. O baluarte passou a manhã de sexta-feira no Buraco Quente, onde viveu intensamente 65 dos seus 88 anos, e falou sobre a esperança depositada na nova gestão.


Na comunidade, onde é reverenciado a cada passo, Sargento fez uma constatação emocionado, ao lado da quadra completamente abandonada e tomada por lixo e entulho: “Alguém sempre te socorre, antes do suspiro derradeiro”, disse o mestre. O socorrista da vez atende pelo apelido de Chiquinho da Mangueira. É no novo presidente, eleito domingo passado, que Sargento aposta suas fichas para ver a escola criada por Cartola voltar a ser o centro das atenções, não só no Carnaval.

Compositor espera dias melhores para a escola | Foto: João Laet / Agência O Dia
Nelson Sargento
Compositor espera dias melhores para a escola |
“A vida é feita de percalços. Ninguém está livre disso. Mas acho que agora temos um grande timoneiro, e a Mangueira vai se reerguer e se recuperar de todos estes anos de sofrimento. Estou pronto para ajudar”, avisa. Os primeiros passos foram dados. A era das popozudas à frente da bateria chegou ao fim. Evelyn Santos, criada na comunidade, é a nova dona do pedaço. Squel também está de volta para ser a porta-bandeira. É a Mangueira voltando às raízes.

Alcione diz estar pronta para ajudar


A cantora Alcione, a Marrom, já se colocou à disposição da nova diretoria para o que for preciso, assim como Nelson Sargento. “O Chiquinho sabe. Aliás, a Mangueira sabe que pode contar sempre comigo. E eu não quero e nem preciso de cargo. Quero é ajudar a Mangueira a voltar para o lugar que merece estar”, disse a Marrom.

Candidato Chiquinho da Mangueira foi apoiado pela cantora Alcione | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Chiquinho da Mangueira e Alcione
Chiquinho da Mangueira foi apoiado pela cantora Alcione | 
Do Recife (PE), onde está fazendo shows, Alcione diz que os mangueirenses de todo o país estão motivados e esperançosos em ver sua escola voltar a brilhar. “A Mangueira não pertence mais ao Carnaval, ao Rio de Janeiro. Ela é do Brasil. Até quem não é mangueirense tem carinho pela escola e sabe a sua história. E a gente sente que tem algo mudando por lá”, completou.
Histórico de crises nos últimos anos
Os destaques da Mangueira estiveram mais nas páginas policiais do que nas colunas sociais nos últimos anos. A ligação do ex-presidente Percival Pires com o traficante Fernandinho Beira-Mar causou polêmica. Depois, o também ex-presidente Ivo Meirelles, segundo a polícia, teria construído rotas de fuga para o criminoso Tuchinha, que ainda compôs sambas para a escola, escandalizando os mangueirenses.


O centenário de Mestre Cartola, fundador da escola, foi ignorado pela direção da escola em 2007, que optou por um enredo sobre frevo patrocinado pela Prefeitura do Recife. Neste mesmo ano, Beth Carvalho foi expulsa do carro dos baluartes e deixou a Sapucaí aos prantos. A morte do intérprete Jamelão, no ano seguinte, aumentou ainda mais a crise. 

Baluartes em festa: Hélio Turco (E), de 80 anos, maior vencedor de sambas-enredo da Mangueira, festeja com Waldir Claudino, 75, filho de Maçu, um dos fundadores da escola | Foto: Raphael Azevedo / Agência O Dia
Hélio Turco eWaldir Claudino
Hélio Turco (E), de 80 anos, maior vencedor de sambas-enredo da Mangueira, e Waldir Claudino, 75, filho de Maçu, um dos fundadores da escola, também apoiaram Chiquinho |
Num ensaio em 2010 em homenagem ao Fluminense, time de Cartola, Luizito, substituto de Jamelão, xingou torcedor no microfone. A Unimed, que patrocinava clube e escola, saiu de cena, a exemplo do que já haviam feito Xerox e Petrobras.

Novo enredo sai nesta semana


A Mangueira deve anunciar esta semana o enredo para o Carnaval de 2014. E, segundo o novo presidente, não há a menor chance de a escola repetir 2007, quando optou por frevo em vez de homenagear Cartola. A escola também programa uma homenagem a Jamelão, que faria 100 anos no próximo domingo. “Isso tudo levanta a moral do mangueirense, recupera a auto-estima da comunidade. A Mangueira não é nada sem quem vive a escola”, diz Alcione.


Vamos Mangueira, Essa É A Hora!