Chapa que tem como vice o PM Marcos Falcon e Monarco como presidente de honra derrota Nilo Figueiredo e vai comandar escola nos próximos três anos
Serginho Procópio é o novo presidente da Portela. O músico e integrante da Velha Guarda Show derrotou o atual mandatário, Nilo Figueiredo, neste domingo, e vai comandar a azul e branco nos próximos três anos. A diferença entre a chapa de Procópio e de Nilo foi de apenas três votos. Os vencedores foram escolhidos por 154 eleitores e a chapa da situação recebeu 151 votos. O resultado demorou e só foi anunciado por volta das 21h40.
A chapa vitoriosa tem como vice o PM Marcos Falcon e ainda Monarco como presidente de honra. "Temos a certeza de que fizemos um grande trabalho, nosso grito foi ouvido. Muita gente não tinha a menor noção dos problemas da Portela, nossa chapa mostrou todos eles e apresentou propostas. Agora temos que fazer uma grande auditoria e levantar as dívidas da escola, que são muitas", disse Procópio.
O desfile de 2014 também já está sendo planejado pelo grupo. "O Carnaval será nossa prioridade. Várias empresas estão nos ajudando e dentro de pouco tempo vamos anunciar o nosso enredo. A Portela precisa voltar a competir e ter um lugar de destaque no Carnaval", avaliou o novo presidente.
O novo carnavalesco da azul e branco será Alexandre Louzada e o diretor de Carnaval será Luiz Carlos Bruno. Wantuir deverá ser anunciado como novo intérprete em breve e Danielle Nascimento é a nova porta-bandeira da escola.
Tensão e ofensas durante votação
A votação teve momentos tensos durante a manhã com troca de acusações, além de ter começado com atraso. O policiamento foi reforçado na porta da quadra, na Rua Clara Nunes. Um grupo de pessoas ligadas ao atual presidente bateu boca com integrantes da oposição.
Monarco chegou cedo pra votar e foi surpreendido com a ira de um eleitor que o chamou de "babaca". O baluarte, que tem 80 anos e é conhecido pela simpatia, não gostou e discutiu com o homem que o ofendeu. O mesmo eleitor ameaçou bater com a bengala em Marcos Falcon. Figura central durante toda a campanha, Monarco não pode acompanhar a votação inteira pois tinha um show em Minas Gerais.
Forte desde o lançamento da campanha, a chapa vencedora promoveu uma série de eventos, carreatas, reuniões com sócios e uma gigantesca mobilização na Internet para conquistar mais eleitores. Todos os grande nomes da escola apoiaram Procópio, entre eles Tia Surica, a lendária ex-porta-bandeira Dodô, Waldir 59, Paulinho da Viola, Noca da Portela, Teresa Cristina, Wilma Nascimento e compositor David Corrêa foram alguns deles.
Eliane Faria (filha de Paulinho da Viola), Angela Nogueira (viúva de João Nogueira), Nezio Nascimento e Nozinho (filhos de Natal da Portela) e descendentes dos compositores Chico Santana e Manacéia e ainda do fundador, Paulo da Portela, também declaram apoio à oposição.
Dívidas e muitos problemas à vista
O novo presidente assumirá uma Portela cheia de dívidas, desprestigiada e que não vence um título sozinha desde 1970. Sem dinheiro em caixa, a escola deve mais de R$ 500 mil aos fornecedores e teve suspensos os serviços na quadra, na sede e no barracão.
A dívida com a Cedae alcança os R$ 355 mil. Só de um imóvel, na Rua Rivadávia Corrêa, na Saúde, o valor ultrapassa os R$ 90 mil. O corte no fornecimento de luz e água interrompeu, inclusive, a tradicional feijoada realizada aos sábados pela Velha-Guarda.
Propostas e reformas profundas
Entre as propostas que foram apresentadas pelo grupo vencedor estão auditoria total nas contas feitas por uma empresa externa, saneamento das dívidas, reformulação do estatuto, implantação do projeto de sócio-torcedor, fim da reeleição por mais de três vezes, valorização da ala dos compositores e Velha Guarda e formação de equipe competitiva para o Carnaval.
Nilo desmoralizado
No poder desde 2004, Nilo Figueiredo assumiu a Portela com a missão de resgatar a autoestima dos portelenses. Dono de um estilo autoritário e centralizador, o dirigente sempre enfrentou muitas críticas por não dar condições financeiras para a escola fazer um grande desfile. A gestão amadora fez a Portela virar piada no mundo do Carnaval devido aos constantes atrasos no barracão.
Diversos carnavalescos passaram pela azul e branco sem sucesso. O intérprete Gilsinho, querido pela comunidade, foi para a Vila Isabel por falta de pagamento. Somente o mestre de bateria, Nilo Sérgio, não deixou a escola. Para essa eleição, Nilo fez apenas um ato de campanha, deu pouquíssimas entrevistas e nunca comentou nenhuma das denúncias feitas por oposição e pela Polícia Federal. Após o resultado, Nilo não quis comentar a derrota e saiu sem falar com a imprensa.
PF investiga desvio de verbas
Conforme o DIA mostrou na última segunda, a investigação da Polícia Federal sobre as irregularidades nas contas da Portela encontrou evidências de erros e comprovação de desvio de dinheiro público. Na fase final do inquérito, os apuradores já ouviram quase toda a cúpula que administra a escola de Madureira e o trabalho caminha para responsabilizar criminalmente por peculato (desvio de recursos públicos praticado por servidor) o presidente Nilo Mendes Figueiredo — capitão reformado da Marinha.
As irregularidades foram detectadas pelo Controladoria Geral da União (CGU) na concessão de duas verbas à Portela, em 2005 e 2007, pelos ministérios de Turismo e Esportes. Somados, os repasses chegam a R$ 2,350 milhões e faziam parte do pacote para promover a imagem do Brasil e dos jogos Pan-Americanos de 2007 no desfile. Mas não foram utilizados para este fim. No mês passado, a CGU determinou à escola o ressarcimento imediato de R$ 525 mil.
Na Polícia Federal, além de Nilo Figueiredo, já prestaram depoimento dois vice-presidentes: Nilo Figueiredo Júnior (filho do presidente) e o delegado aposentado Aguinaldo Ribeiro. Os dois afirmaram que só assinaram a prestação de contas da escola de samba e nunca manipularam qualquer verba na Portela. O dinheiro, asseguraram na Delegacia de Combate a Crimes Financeiros, era movimentado apenas por Nilo.
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