terça-feira, 4 de março de 2014

Análise: o que vi dos desfiles das escola de samba RJ - Tijuca e Salgueiro são as favoritas


O último carro da Unidos da Tijuca é o Pódio. No alto, dois pontos espirram água que simula a champagne da comemoração da vitória de Ayrton Senna.
Carnaval
O primeiro dia do desfile de escolas de samba do Grupo Especial do Rio foi marcado por homenagens à História do Brasil e às tradições herdadas pelos povos africanos. Seis escolas passaram pela Sapucaí entre a noite de domingo (2) e madrugada desta segunda-feira (3): Império da Tijuca, Grande Rio, São Clemente, Mangueira, Salgueiro e Beija-Flor.
 
Duas delas (Grande Rio e Mangueira) falaram sobre o Descobrimento do Brasil em suas comissões de frente. A cultura africana permeou a maior parte do desfile da Império da Tijuca, mas também foi retratado novamente na Mangueira e no desfile do Salgueiro. Todas as escolas mostraram criatividade na hora de trazer elementos acrobáticos e efeitos especiais. Na São Clemente, até piscinas de plástico subiram nas alegorias. Acrobatas se apresentaram em um canhão humano na Grande Rio. Houve tirolesa na Mangueira e uma artista chegou a "levitar" em uma alegoria do Salgueiro, graças a um truque mecânico.
 
Sem atrasos, os imprevistos foram pequenos: na Mangueira, um carro alto demais ficou entalado na avenida, e acabou com peça arrancada. No Salgueiro, uma das alegorias soltou fumaça, mas não teve os movimentos comprometidos, e um dos carros, dedicado ao elemento fogo, teve problemas na iluminação. A Beija-Flor fechou os desfiles versando sobre comunicação, com homenagem a Boni, ex-diretor da TV Globo, e muitos famosos.
 
No mais, tremeu muito pouco o domingo de carnaval. Atrações aguardadas como os sambas do Salgueiro e da Mangueira e as telas interativas da Beija-Flor foram recebidas com frieza pela plateia. E todas as escolas deixaram a Avenida lamentando pontos que provavelmente perderão.
 
Zico, Ayrton Senna ou Rio de Janeiro? Ou melhor: Imperatriz Leopoldinense, Unidos da Tijuca ou Portela? Qual das três escolas, com os respectivos enredos, teria mais chances de ser a campeã do Carnaval carioca em 2014? A apuração é apenas na quarta-feira (5), mas, pelo que apresentaram neste segundo dia de desfiles, essas escolas entram na briga pelo título, ao lado de Salgueiro e Beija-Flor, entretanto, Imperatriz cometeu erros consideráveis em sua evolução ao longo de seu desfile.
 
Sim, as três últimas a se apresentarem foram muito superiores às outras nove agremiações. Após uma primeira noite fria, a segunda foi bem superior e pode consagrar mais uma vez a vencedora.
 
No segundo dia de desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro, na segunda-feira de carnaval, a Portela e a Unidos da Tijuca foram os principais destaques da noite, sem cometer erros expressivos.
 
Maior campeã do carnaval carioca, com 21 títulos, a Portela arrancou gritos de 'campeã' do público  com o  enredo 'Um rio de mar a mar: do Valongo à Glória de São Sebastião'.
 
Antes de o desfile começar, Paulinho da Viola e Monarco cantaram o clássico samba 'Foi um rio que passou em minha vida'.
 
Outro destaque da noite foi a Unidos da Tijuca com um enredo sobre a velocidade que homenageava o piloto Ayrton Senna. A comissão de frente da escola da Zona Norte do Rio trouxe a réplica de um carro de Fórmula 1.
 
A União da Ilha, com um enredo sobre os brinquedos e brincadeiras, e a Imperatriz Leopoldinense, que homenageou o ex-jogador Zico, fizeram apresentações que mexeram com o público.
 
Fechada a conta, parece que Salgueiro e Unidos da Tijuca dividem as maiores chances para conquistar o título do carnaval. Mas a disputa está muito embolada, ainda com Beija-Flor, Portela e Imperatriz. Garantia de emoção até a abertura dos votos dos jurados, nesta quarta-feira. Porque carnaval bom é assim: não acaba!
 
IMPÉRIO DA TIJUCA
Carro abre-alas da Império da Tijuca. Batuk, samba-enredo da escola, fala sobre a história dos instrumentos de percussão
Império da Tijuca
E o chão dos bambas só tremeu mesmo para o Império da Tijuca no domingo de carnaval. A dura missão de sobreviver no Grupo Especial, vindo da Série A, foi encarada com energia pelos componentes do Morro da Formiga. E o enredo “Batuk“ viveu momentos de empolgação do público, especialmente nas passagens do refrão “Vai tremer / O chão vai tremer”. As paradinhas, com ritmo sustentado apenas pelos atabaques, levantaram as arquibancadas, destaque para Pixulé, o intérprete da escola. O carnavalesco Júnior Pernambucano, estreante no Grupo Especial, cumpriu sua missão dentro das limitações da escola, criou um bom conjunto de alegorias e fantasias, porém sem muitas surpresas e inovações.
 
Mas foram os ritmistas comandados pelo Mestre Capoeira os principais responsáveis — junto com o excelente puxador Pixulé — pela manutenção do sonho de ficar na elite para 2015. Porque continua valendo aquele antigo samba da Mocidade Independente, para todas as participantes da primeira noite na Sapucaí: “Sonhar não custa nada”.
 
GRANDE RIO
Carros alegóricos da Grande Rio
Grande Rio
Com a hashtag #vaigranderio, torcedores da tricolor de Duque de Caxias enviaram fotos e vídeos para a escola, por redes sociais. E as imagens foram exibidas em telas no último carro alegórico. A escola enfrentou com competência o fato de ter sido a segunda a desfilar. No enredo “Verdes olhos sobre o mar, no caminho: Maricá”, a agremiação apresentou um de seus melhores desfiles, plasticamente falando. Foi a estreia do carnavalesco Fábio Ricardo (ex-São Clemente e Rocinha), que deslumbrou o público com carros como o abre-alas (do piano, todo em preto e branco e cheio de movimentos) ou o da estufa de estudos darwinianas, com animais numa floresta.
 
Já a comissão de frente, com dois carros acoplados que ocupavam inacreditáveis 38 metros da Avenida, arrancou os aplausos do público, graças ao efeito circense de um homem bala lançado para o alto até cair numa rede. Mas que também gerou críticas dos mais tradicionalistas, que chegaram a chamá-la de um carro coreografado, abre-alas extraoficial (toda a apresentação acontecia sobre a alegoria), o que, na humilde opinião deste blogueiro prejudica o quesito e o conjunto da escola.
 
Elogiado por todas as correntes carnavalescas foi o canto forte da escola, consequência da decisão de doar 100% das fantasias aos componentes. O samba, nesse embalo, cresceu para compensar as limitações gritantes do hino, no máximo razoável. O resultado desse desfile é que a Grande Rio foi dormir acreditando que volta entre as campeãs no sábado 8 de março, no ano em que completa 25 carnavais.
 
 
SÃO CLEMENTE
Carro alegórico da São Clemente
São Clemente
Já para a São Clemente, que desfilou imediatamente antes da Mangueira, a plateia foi ainda mais fria. A escola de Botafogo tinha, no papel, um dos grandes enredos do ano — “Favela” —, mas que decepcionou no enfileirar de clichês sobre as comunidades populares. Além disso, faltou humor para tratar de um universo tão plural. Por fim, a São Clemente ainda concentrou suas referências diretas a favelas que contam com uma UPP. Um pouco de política para desafinar de vez o samba.
 
O enredo pecou em alguns conceitos ao longo de sua apresentação. No carro da musicalidade da favela, por exemplo, só houve espaço para o funk. E no setor das comunidades pelo mundo, a alegoria de nome “O universo da miséria” era a mais luxuosa da escola.
 
MANGUEIRA
Carro da Mangueira que ficou danificado após bater em uma torre
Mangueira
Em alguns momentos, a Mangueira ainda teve respostas negativas da plateia por conta da apresentação da São Clemente. logo se recuperou e levantou a Sapucaí. Mas não foi a explosão esperada, como a que se viu nos últimos anos, quando a verde e rosa ousou com suas paradonas da bateria.
A cobiça pelo primeiro lugar fica mais parecido com delírio para a Estação Primeira de Mangueira. O enredo das festas brasileiras produziu um desfile cheio de acidentes. O quinto carro, de Parintins, bateu na torre de TV e a escultura de um índio ficou sem cabeça, entretanto, tecnicamente a escola não pode ser punida, pois já havia se apresentado diante de todas os módulos de julgadores. Na evolução a verde e rosa também tropeçou: teve de acelerar o passo para não estourar o tempo. Se habitualmente a Mangueira costuma terminar seu desfile com grito de “campeã”, desta vez os componentes não comemoraram muito.
 
Foi a estreia da carnavalesca Rosa Magalhães na Mangueira, campeã ano passado na Vila Isabel, que desfilou na lateral de um carro alegórico, vestida de mãe de santo. A apresentação, no entanto, não foi só tensão. Carlinhos de Jesus voltou à comissão de frente da verde e rosa. E mostrou o encontro dos índios com os portugueses, que trocavam de roupa para representar as várias manifestações culturais brasileiras, Comissão Estandarte de Ouro (prêmio concedido pelo Jornal O Globo aos melhores do ano). E, ao contrário da tendência da noite, de grandes tripés na comissão de frente, a da Mangueira não usou o mesmo recurso: só tinha uma oca que também se transformava em saias para os componentes. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Squel e Raphael, mostraram bastante entrosamento, com uma impecável fantasia, e um bailado beirando à perfeição. Raphael parece ter se recuperado dos erros cometidos em anos anteriores, bela apresentação.
 
A bateria também empolgou numa paradinha mantida apenas por uma "orquestra" de tamborins, referência clara às origens da Estação Primeira que resgatou sua bateria que voltou a se chamar "Tem Que Respeitar Meu Tamborim". Sobretudo quando a rainha Evelyn Bastos desaparecia no meio dos componentes para ressurgir sambando magistralmente numa plataforma que subia acima dos ritmistas. Outro destaque foi o setor da diversidade sexual. Uma ala, por exemplo, mostrava o casamento gay em parte da coreografia. E, no carro, bailarinos literalmente saíam do armário durante a apresentação. Uma mensagem de tolerância para tentar derrubar o preconceito espalhado num país ainda homofóbico.
 
 
SALGUEIRO
Salgueiro levou Estandarte de Ouro deste ano Foto: Marcelo Piu/O GLOBO
Salgueiro
Houve, sim, bons desfiles que podem, na disputa de décimos da apuração, chegar ao campeonato. Talvez o Salgueiro que conquistou o Estandarte de Ouro de melhor escola,  tenha uma leve vantagem. Muito por causa do trabalho brilhante dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. Com o enredo “Gaia — a vida em nossas mãos”, a vermelha e branca se apresentou impecável em alegorias e fantasias. A escolha de um desenvolvimento que dividiu o desfile pelos elementos da natureza (terra, fogo, água e ar) permitiu um espetáculo visual típico de Renato.
Os mesmos quatro elementos apareceram na comissão de frente, coreografada por Hélio Bejani, simbolizados pelos orixás Iemanjá, Iansã, Xangô e Ossain. A única concessão menos tradicional foi um efeito de ilusionismo no tripé da comissão. Uma das bailarinas parecia levitar, num truque que Bejani contou ter se inspirado no espetáculo Illusions, que assistiu em Las Vegas.
 
— Fizemos da nossa forma, carnavalesca. Tiramos a apresentação do palco para a Sapucaí, a 7,5 metros de altura — disse Bejani.
 
Logo atrás da comissão, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Marcella Alves fez uma apresentação louvável. Foi o final feliz de uma tensa espera para os dois, que começou na contratação de Marcella (ex-Mangueira) após o carnaval do ano passado. Os dois tiveram que partir do zero, em treinos exaustivos, para conseguir o entrosamento conseguido no desfile. E terminaram rasgando ceda um para o outro na dispersão. Sem dúvidas, um dos momentos mais fortes da apresentação acontecia no refrão do samba que se referia aos orixás, quando Marcella soltava uma alta gargalhada, numa referência a Iansã.
 
Na confecção das alegorias e fantasias, o carnavalesco que nos anos 1990 ganhou a fama de futurista, para alguns até “high tech”, apostou no mais tradicional, embora não tenha perdido seu toque moderno. No abre-alas e em todo o primeiro setor, predominaram materiais como a palha. Espigas de milho desidratadas, por exemplo, foram parar numa fantasia. E no enredo que abordava a sustentabilidade, copinhos plásticos formaram as árvores do sexto carro. Enquanto na última alegoria, sobre o caos, havia garrafas PET e pneus num mundo cor de cobre, sob a sombra de imensa escultura da morte, para representar a poluição do planeta.
 
— Agora é Gaia que manda. Poetizamos o enredo — disse Renato Lage, que vestia uma camisa com uma homenagem ao carnavalesco Fernando Pamplona, que morreu ano passado. — Estou muito orgulhoso e me sinto privilegiado de poder homenagear Pamplona, alguém que fazia as coisas com amor e deixou um legado não só para o Salgueiro, mas para o carnaval.

 
BEIJA-FLOR
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, empresário e diretor de TV, foi homenageado pela Beija-Flor em seu desfile
Beija-Flor
Já a Beija-Flor não perdeu seu estilo: muito luxo e o canto forte de sua comunidade, porém não empolgou a Sapucaí num desfile altamente frio. Mas na homenagem ao diretor de TV José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, acrescentou tecnologia à sua apresentação, desde a comissão de frente. Numa ousadia, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso passaram a integrar a abertura da escola. Eles dançavam enquanto dançarinos simulavam voos de beija-flores numa estrutura metálica, alçados por controle remoto. Além disso, peças gigantes de xadrez se moviam compondo o cenário, embora tenha deixado uma incógnita sobre como a inovação será vista pelos jurados.
 
Dali em diante passou o habitual show de riqueza da Beija-Flor. O abre-alas azul e dourado era um deslumbre. O homenageado, Boni, veio em frente à bateria, vestido de Charlie Chaplin, ciceroneando a rainha de bateria Raíssa de Oliveira. O bigode, característico de Carlitos, caiu algumas vezes durante a evolução do homenageado. Mas a mulher dele, Lou, rapidamente colava um novo. Definitivamente, não deve custar pontos em fantasia.
 
A tecnologia reaparecia nos dois últimos carros. No sétimo, havia uma constelação de artistas convidados por Boni: de Fausto Silva a Miguel Falabella, de Regina Duarte a Hélio de la Peña e de Regina Casé a Luciano Huck. Muitos, surpreendentemente, cantavam o samba — inclusive Suzana Vieira, que dobrou depois de desfilar na Grande Rio. Atrás deles havia alguns dos vários telões de LED da escola, que nesse carro mostraram imagens de momentos históricos da TV Globo, escolhidas pelo próprio Boni.
 
O uso da tecnologia permitiu momentos simpáticos da azul e branca, tanto nas fotos de beijos enviados pelos torcedores via aplicativo de celular, quanto nas imagens ao vivo de espectadores na Avenida, captadas por câmeras no último carro.
 
A escola ainda, cometeu falhas no ato acabamento de algumas alegorias, e algumas fantasias não apresentavam o mesmo nível de luxo, problemas também observados no quesito evolução, abrindo clarão na Avenida, e a tradicional corridinha da escola para encerrar seu desfile, esperamos que a conhecida "caneta amiga da LIESA", não volte a escrever as notas para o desfile que exaltou a história de Boni da Rede Globo de Televisão, quase sempre imparcial em suas transmissões do carnaval carioca!

 
MOCIDADE
Mocidade
Contentamento - com um molho de surpresa - viveram os componentes da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma crise política antes do carnaval (com mudança na presidência, por determinação da Justiça, a um mês do desfile) deixou os torcedores aflitos, porém a escola já enfrentava uma gestão anterior caótica. Mas também parece ter injetado ânimo no povo da Zona Oeste. Mutirões dia e noite, com voluntários, foram organizados no barracão para terminar o carnaval. E depois de semanas de angústia para superar os atrasos e construir a "Pernambucópolis" do enredo, o que desfilou na Avenida foi a operação de um milagre.
A verde e branca homenageou um dos grandes carnavalescos de sua história, Fernando Pinto. E evolui solta, contagiando o público ao som do bom samba que falava no "Padim Padre Miguel". Houve aplausos para Monique Evans, lendária rainha de bateria, que voltou à escola no abre-alas. Aliás, os ritmistas da "Não Existe Mais Quente" fizeram o que sabem: mantiveram o ritmo e abusaram de paradinhas e convenções, para o delírio da Sapucaí.
 
Diante de um pré-carnaval tão conturbado, as fantasias do carnavalesco Paulo Menezes estavam num bom nível. Os carros também, estavam quase prontos... Porque os reflexos da crise antes da folia apareceram, sim, nas alegorias. Havia espaço para destaques desocupados, e o acabamento destoava das escolas mais ricas e bem preparadas que passaram pela Avenida. Nada que tirasse a alegria dos independentes, felizes de terem se apresentado com a dignidade que a reverência a Fernando Pinto merecia.
 
- Foi um carnaval feito em três semanas, em que nós apenas cochilávamos. O público respondeu a nosso desfile. Isso que importa - dizia o carnavalesco Paulo Menezes.
 
Depois da reviravolta a um mês do carnaval, a família Andrade retornou à escola na figura de Rogério Andrade, que apareceu na Sapucaí para assistir ao desfile da verde e branco.

 
UNIÃO DA ILHA
Sexto carro da União da Ilha 'E eles criam a vida'
União da Ilha
Passou e encantou - como fez a União da Ilha, também na esteira da sua tradição. A tricolor se reencontrou com seus melhores momentos ao cantar os brinquedos e brincadeiras. Com seu velho e bom colorido, que fez história em desfiles como "Domingo" e "O amanhã", a escola se divertiu - e divertiu o público também - na Sapucaí. O enredo, Estandarte de Ouro, estava bem resumido na comissão frente, poética e moderna, com o show das escolas no sambódromo hoje exige. Um imenso baú se abria, e uma dupla de velhinhos "voltava" à infância, reaparecendo como crianças. Completavam o espetáculo um soldadinho de chumbo e uma bailarina numa haste flexível que faziam acrobacias e causavam calafrios no público, porque pareciam que poderiam cair, neste momento distribuía brinquedos para o público.
 
Dali em diante um festival de brinquedos fez o público viajar no tempo, com direito a uma encenação, em frente à bateria, das eternas batalhas de vilões e super-heróis de histórias em quadrinhos e desenhos animados. Um destaque foi a ala do Pac-man, jogo eletrônico ícone dos anos 1980. Tudo no ritmo vigoroso do puxador Ito Melodia, em mais um ano de excelência, e da bateria do estreante mestre Thiago Diogo (ex-Porto da Pedra).
 
Mas o desfile da Ilha não foi só folia e brincadeira. Vários carros passaram aperto para vencer a curva fatal da Presidente Vargas para a Marquês de Sapucaí. No último, a escola teve dificuldade para levar um dos destaque até o alto da alegoria. As agruras da tricolor voltaram na parte final da apresentação, quando a tela de LED do carro dos jogos eletrônicos tombou e só não caiu porque ficou presa do queijo de um destaque. Os contratempos não impediram a festa na Apoteose:
 
- Fizemos um desfile com a cara da Ilha e toda a alegria que o carnaval merece - comemorou o carnavalesco Alex de Souza.

 
VILA ISABEL
Vila Isabel
A escola que, definitivamente, se despediu melancolicamente da disputa do título foi a Unidos de Vila Isabel, campeã do carnaval de 2013. A azul e branca não conseguiu vencer a derrocada em que se meteu no pré-carnaval. Os atrasos se confirmaram diante de todo o público num desfile acidentado como poucas vezes. O maior drama foi vivido com as fantasias. Dezenas de componentes passaram com roupas civis ou figurinos incompletos, num cenário muito raro na era contemporânea do luxuoso desfile da elite do samba.
O problema da Vila começou cedo. Integrantes de uma ala foi ao barracão buscar sua roupa pela manhã e acabaram recebendo-as minutos antes de a escola pisar a avenida - e mesmo assim, incompletas. Muitos outros ficaram sem fantasias e protestavam no barracão da escola, no início da tarde.
 
- Isso é um absurdo. Corríamos o risco de nem desfilar e a escola seria prejudicada. Nós estamos fazendo a nossa parte pela escola, mas eles (os dirigentes) não estão fazendo a parte deles - disse uma componente da Águas Africanas, que pediu para não ser identificada.
 
Numa visita à concentração da Vila, o puxador Tinga, revelado na escola e hoje na Unidos da Tijuca, não segurou o choro, diante da situação desoladora. Lágrimas também desceram pelo rosto de vários diretores de harmonia e componentes mais antigos da azul e branca. De sua parte, o presidente de honra, Wilson Moisés, classificou como pontuais os problemas. A diretoria atribuiu a falta de fantasias ao atraso da entrega de um ateliê terceirizado.
 
Logo no começo do desfile, os primeiros transtornos. Os componentes do abre-alas esperaram até o último minuto, mas não receberam a parte que faltava da fantasia. O resultado foi um desfile de shorts dos mais variados modelos, porque faltou a parte de baixo.
 
A solitária boa notícia do carnaval da escola do bairro de Noel em 2014 foi o canto dos seus integrantes, mesmo sem adereços como chapéus das fantasias. Evolução foi outro ponto positivo.
 
- O que a Vila Isabel tem de mais forte é sua comunidade aguerrida - consolou-se Evandro Bocão, o vice-presidente.
 
No caso da ainda campeã do carnaval, só a tradição salva.
 
E parece perseguição, porém não é, mais uma vez o carnavalesco Cid Carvalho mente para o público, ele vinha declarando que a escola surpreenderia e brigaria pelo título, além de reafirmar diversas vezes que a escola estava pronta, chegando a ser impaciente, em alguns momentos, com as críticas recebidas. Que feio Senhor carnavalesco!
 
IMPERATRIZ
Imperatriz
Se a Mocidade - que não vence um carnaval desde 1996 - respirou aliviada, outra campeã da folia carioca que também enfrenta um incômodo jejum foi mais longe. A Imperatriz Leopoldinense, sem título desde 2001, pode até sonhar com novos tempos de glória na quarta-feira de cinzas, graças à força de um craque. Zico, o aniversariante da noite e protagonista do enredo da verde e branca, comandou a festa numa apresentação aplaudida, que uniu torcedores de todos os clubes em torno do deus rubro-negro. A escola passeou pelo universo futebolístico e levou à Avenida ex-jogadores da estirpe de Roberto Dinamite, Leandro, Andrade, Deco, Rivellino e Edmundo.
 
A comissão de frente, criada pela talentosíssima Deborah Colker, bateu um bolão literalmente, ao fazer embaixadinhas mirabolantes e encenar peladas pela Sapucaí. Ainda fizeram acrobacias e dançaram muito, para encantamento do público. Uma das melhores do carnaval.
 
Considerando que a plateia da passarela não era formada apenas por flamenguistas, foi interessante assistir ao modo como o ex-camisa 10 da seleção brasileira ganhou a aclamação unânime da Sapucaí. E a Imperatriz fez sua parte nesse jogo. Repetiu a boa atuação do ano passado e credenciou-se para a disputa do primeiro lugar na tabela da folia. Carrega, contra si mesma, imprevistos com alegorias que abriram dois buracos gigantescos na pista. Primeiro, com o abre-alas, o da chuteira gigante. Depois o próprio Zico teve dificuldades de subir na que o levaria pela pista e os componentes seguiram em frente, produzindo o problema. Para piorar, o carro ainda ficou empacado na temida curva de entrada na Passarela, quase batendo no estúdio da TV Globo, ali vizinho.
 
PORTELA
Portela
Nada será maior, no carnaval de 2014, do que o arremate da ressurreição portelense. Num trabalho admirável, a atual diretoria da escola, que assumiu no meio do ano passado em meio a dívidas apocalípticas (aproximadamente R$ 14 milhões), prometeu um grande desempenho - e cumpriu. A azul e branca de Oswaldo Cruz, ainda a maior campeã da festa, mas submetida a um jejum de três décadas, conjugou modernidade com o respeito às suas tradições. Começando - claro - pela águia, a ave que voa mais alto, símbolo da escola. Ela apareceu em vários momentos do início da apresentação: voando de verdade, num drone alegórico; no tripé da comissão de frente, onde fechava as asas para uma transformação dos componentes; e no abre-alas, o tsunami de águias, com nada menos do que 22.
A metamorfose de uma das mais tradicionais grifes da folia continuava pelas alas e alegorias, todas muito bem acabadas como há muito não se via, dentro do enredo sobre a Avenida Rio Branco. O Rio "de terno linho e chapéu panamá" que iniciava seu sonho de Paris tropical passou na avenida, com direito ao Valongo, o Theatro Municipal, a Cinelândia e a finada decoração de carnaval (inspirada em Fernando Pamplona). Mas a alegoria de maior sucesso foi a penúltima, o gigante que se referia às manifestações que historicamente ocupam a principal via do Centro. Uma escultura humana, pintada nas cores da bandeira brasileira, que alcançava 18 metros de altura, era erguida, como se despertasse de um sono. O público da Sapucaí aplaudiu seguidamente a performance - e a partir dela, iniciaram os gritos de "é campeã", ainda no Setor 2, algo raro na história recente da festa.
 
Outro item decisivo para o sucesso foi o acerto do samba. Um dos mais elogiados no pré-carnaval, veio mais cadenciado do que a versão do CD, e foi cantado com desenvoltura por rigorosamente todos os componentes. A Portela espalhou-se pela avenida como uma brincadeira de carnaval, um mar azul e branco de alegria.
 
- É o dia da consagração. A Portela se modernizou. Mas estamos aqui vigilantes da tradição. Este carnaval despertou nossa paixão - resumiu Monarco, 80 anos, líder da virada e presidente de honra da escola.
 
Outro líder da odisseia, o vice-presidente Marcos Falcon ratificava a aposta:
 
- A emoção é mais simples do que se imagina. A emoção não custa dinheiro.
 
O sentimento dominou os componentes desde o início. O mais famoso deles traduziu a euforia ainda na concentração.
 
- Hoje é um recomeço. A escola está otimista. Temos uma história e hoje estamos orgulhosos dessa história. É uma história de raiz, como o samba que começou aqui na Praça Onze - descreveu Paulinho da Viola que brindou a Sapucaí num dueto com Monarco para o esquenta da escola, o tradicional "Foi um rio que passou em minha vida".

 
TIJUCA
Unidos da Tijuca
O outro ídolo do esporte brasileiro celebrado na maratona de samba de 2014 foi Ayrton Senna, celebrado pela Unidos da Tijuca no enredo sobre velocidade. O esperado carnavalesco Paulo Barros radicalizou em sua estética, com carros sem enfeites típicos do carnaval. Ele construiu um rali, no qual o vencedor seria Ayrton Senna. O GP Tijuca reuniu vários personagens do universo pop, como o jamaicano Usain Bolt, o herói dos quadrinhos The Flash, o guepardo (felino africano que corre mais rápido entre os animais) e vários integrantes da "Corrida Maluca", o velho desenho animado de Dick Vigarista e Penélope Charmosa. A famosa comissão de frente mostrou uma disputa entre todos eles, mas quem vencia era o bailarino que representava Senna, que até desfilava num carro de Fórmula 1 e, depois, interagia com o casal de mestre-sala e porta-bandeira Julinho e Rute.

Não houve o arrebatamento que acompanha a trajetória de Paulo Barros. O enredo de fácil leitura foi muito bem executado, que contou com aplicação de um samba que brinca todo tempo com o público  e como esperado levantou a Sapucaí. E a Tijuca cantou, brincou e ganhou direito de sonhar: está no páreo para 2014 como grande favorita.





 
 

2 comentários:

  1. Por que voce simplesmente não copia e cola aqui o link do globo? Copiar tudo fica feio..

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    1. Ainda escreve "Análise do que viu" no título do post!! hahahahahaahaha

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