Criado com o intuito de debater e expor novas idéias para o julgamento dos desfiles das escolas de samba, o ‘I Seminário Pensando o Carnaval’ teve uma noite de gala nesta terça-feira. Sentados à mesa que se propunha a discutir idéias para os quesitos evolução, harmonia e conjunto, Wagner Araújo, diretor de carnaval da Imperatriz, e Laíla, diretor de carnaval da Beija-Flor. Bem humorados e dispostos a colaborar com o intuito do encontro, os dois levantaram questões importantes e mostraram-se favoráveis às notas dez justificadas. Além disso, a construção de mais um recuo de bateria na Marquês de Sapucaí foi colocada em pauta.
A mesa teve mediação do jornalista Fabio Fabato, que assina coluna no site Galeria do Samba, e o primeiro assunto colocado em pauta foi a capacidade de entendimento dos julgadores do quesito harmonia. Para Laíla, que há 50 anos milita no carnaval, não é apenas a falta de conhecimento que expõe os erros dos jurados.
- Julgar harmonia é difícil. É preciso ter o conhecimento teórico e prático da questão e já vi muita escola ganhar nota dez com cavaco desafinado. Na verdade, alguns agem de má fé, julgam pelo peso da bandeira. Hoje, tenho convicção que a harmonia é julgada através da voz do cantor oficial – disse Laíla, que deu o exemplo da São Clemente como uma escola que constantemente é prejudicada.
Já Wagner Araújo, que também faz parte da diretoria da Liesa, ressaltou a dificuldade encontrada pela entidade para montar o corpo de julgadores.
- Vocês não tem ideia da dificuldade que é reunir cinqüenta nomes que saibam julgar e que não tenham nenhum tipo de envolvimento com as escolas. Existe até uma proposta de diminuição para 40 julgadores, como já ocorreu, mas nem isso é o ideal. O ideal é utopia. Pra mim o certo seria escolher 15 julgadores para cada quesito e descartar algumas notas. Desta forma, iríamos diminuir a quantidade de erros, mas fazer isso é muito complicado.
Assunto que vem sendo frequente nas quatro mesas do seminário realizadas até aqui, as notas dez justificadas receberam atenção especial da dupla. Além de confirmar que é favorável à medida, Laíla disse mais.
- Tem que ter lisura e amor por aquilo que faz. Alguns dos que estão ali são descompromissados com o carnaval. Você pega cada coisa nas justificativas que te revolta. O dez justificado é necessário sim.
Wagner lembrou também que a medida é uma forma de avaliar a verdadeira capacidade do julgador.
- O dez indevidos fazem muito mal ao carnaval. Talvez se o curso de jurados fosse mais extenso os erros poderiam ser diminuidos, mas é difícil afirmar isso. Não quero ouvir os elogios da nota dez, mas é uma forma de colocar em cheque o cara. A nota dez, às vezes, é fuga possibilitada ao julgador. Ele dá a nota e pronto – concluiu Wagner.
Já para a resolução de um dos problemas mais crônicos enfrentados pela escolas na Marquês de Sapucaí, o som da pista, Laíla surpreendeu a todos ao pedir aos órgãos que comandam a reforma no templo maior do samba carioca a construção de um terceiro Box para a bateria. Na visão do diretor de carnaval da Beija-Flor, a medida ajudaria a equilibrar a distribuição do som ao longo do desfile.
Wagner Araújo, além de concordar com o colega de profissão, pediu que, desta vez, algum sambista seja ouvido. Depois, em tom de brincadeira, discordou de Laíla, quando o comandante da Deusa da Passarela revelou a ideia de inserir no regulamento que as escolas cantassem o samba, somente com acompanhamento do cavaquinho e da bateria, durante 15 minutos. O fato de os jurados de harmonia descerem para a pista de desfiles durante a passagem das escolas também foi rechaçado por Wagner, que considera inviável a opção.
Com relação ao carnaval moderno, Laíla pediu aos órgãos de imprensa que valorizem mais os conceitos inerentes ao "chão" das escolas de samba.
- Aqueles que sentem saudade do carnaval onde as escolas passavam três horas na Avenida, que os sambas eram dolentes, não há como desfilar desta forma. Eu tenho que guiar a minha escola em cima do regulamento da competição. Carnaval é quesito! Não é só a plástica. Vamos largar esse negócio de Hollywood pra lá. A imprensa tem culpa nisso também, porque acaba valorizando demais essas coisas que aparecem. Carnaval não é carro de cabeça pra baixo não! A plástica é quem deve acompanhar o chão da escola. Não se pode gastar a grana que se gasta hoje com alegorias. Na Beija-Flor eu não deixo isso acontecer. Eu valorizo o samba, a bateria, a harmonia perfeita, a evolução, a espontaneidade do componente – desabafou.
Wagner fez coro com o diretor da Beija-Flor e pediu que segmentos como baianas, passistas e os grandes destaques sejam mais valorizados. Já com relação ao carnavalesco da Unidos da Tijuca, Paulo Barros, um dos ícones do carnaval moderno, a dupla discordou. Laíla revelou que quem não acompanhar o modelo de interação com o público vai acabar ficando pra trás. Wagner, elogiou Paulo Barros, mas disse acreditar que o artista encontra-se numa encruzilhada, já que não vê o estilo de Paulo Barros encaixar-se com o enredo sobre Luiz Gonzaga, tema da escola do Borel em 2012.
Sobre o quesito evolução, Laíla revelou seu incômodo com o excesso de coreografias visto no carnaval de hoje. Ele ressaltou que as coreografias não são algo do carnaval moderno e citou o Império Serrano como pioneiro. Laíla definiu que a evolução deve ser feita com simplicidade e, acima de tudo, o componente deve dançar aquilo que ouve. Para Wagner Araújo, apontado como maior responsável pelos desfiles extremamente técnicos da Imperatriz na década passada, a agremiação de Ramos sofre com um fenômeno ocorrido com as agremiações nos últimos anos.
- Na Imperatriz eu ainda tenho 40% de alas comerciais. Isso representa um grande percentual de pessoas que eu não sei como vai chegar pra desfilar. A grande maioria das pessoas que desfilam nessas alas não convivem conosco. Não vão aos ensaios e caem de pára-quedas no dia do desfile. O ideal, para a Imperatriz voltar a ter o rendimento que tinha, é vestir a escola toda. Antigamente o carioca não freqüentava as quadras da forma que freqüenta hoje. Ele descobriu que pode se divertir muito mais freqüentando as quadras ao invés de comprar fantasias, que são verdadeiras cangalhas de setecentos, oitocentos reais, e passar na Avenida durante 15 minutos – afirmou Wagner, que rebateu as críticas do enfileiramento da ala das baianas.
No que diz respeito ao posicionamento dos casais de mestre-sala e porta-bandeira na ‘’cabeça da escola’’, imprimido por Laíla na Beija-Flor, no início da última década, e seguido por todas as escolas posteriormente, a dupla concordou que é algo que ajuda a evolução das escolas. O consenso é que a agremiação só precisa parar uma vez para a apresentação das comissões de frente e casais de mestre-sala e porta-bandeira em cada cabine de julgadores. Quanto a alternância no ritmo que a escola evolui na Avenida depois da passagem destes dois segmentos, Wagner garantiu que os jurados recebem a orientação de que é normal isto ocorrer.
Outro pedido que virou lugar comum entre os dois experientes profissionais, foi o fim do quesito conjunto. Eles acreditam ser desnecessária a permanência do conjunto no julgamento, já que ele congrega todos os outros. Laíla pediu também que haja descarte somente da menor nota e que o número de módulos de julgamento volte a ser apenas quatro, além de manifestar o desejo de ver pessoas públicas no papel de julgadores. Ele exemplificou, citando Maria Augusta, Fernando Pamplona, os produtores do CD do Grupo Especial, e a jurada do Estandarte de Ouro, Lygia Santos, que esteve presente mais uma vez, assim como vários diretores de harmonia e carnaval de outras escolas.
Para encerrar a produtiva noite uma leve polêmica. Wagner Araújo respondeu pergunta feita pelo mediador Fábio Fabato, que questionou o fato de os julgadores só fecharem o envelope de notas do desfile de domingo na segunda-feira. O diretor de carnaval da Imperatriz disse que o julgamento é comparativo, portanto é preciso avaliar todas as escolas antes de fechar a nota de cada uma. Quanto às possíveis interferências que o jurado pode sofrer de um dia para o outro, Wagner não negou a possibilidade, mas reafirmou que os responsáveis pelo julgamento devem ter uma postura correta e personalidade forte. Mesmo um pouco incomodado com a questão, Laíla concordou com Wagner e deu nota 10 para o julgamento do Carnaval 2011. Já Wagner, que foi o sexto com a Imperatriz Leopoldinense, designou a nota 8,5 para o desempenho dos julgadores.
A mesa teve mediação do jornalista Fabio Fabato, que assina coluna no site Galeria do Samba, e o primeiro assunto colocado em pauta foi a capacidade de entendimento dos julgadores do quesito harmonia. Para Laíla, que há 50 anos milita no carnaval, não é apenas a falta de conhecimento que expõe os erros dos jurados.
- Julgar harmonia é difícil. É preciso ter o conhecimento teórico e prático da questão e já vi muita escola ganhar nota dez com cavaco desafinado. Na verdade, alguns agem de má fé, julgam pelo peso da bandeira. Hoje, tenho convicção que a harmonia é julgada através da voz do cantor oficial – disse Laíla, que deu o exemplo da São Clemente como uma escola que constantemente é prejudicada.
Já Wagner Araújo, que também faz parte da diretoria da Liesa, ressaltou a dificuldade encontrada pela entidade para montar o corpo de julgadores.
- Vocês não tem ideia da dificuldade que é reunir cinqüenta nomes que saibam julgar e que não tenham nenhum tipo de envolvimento com as escolas. Existe até uma proposta de diminuição para 40 julgadores, como já ocorreu, mas nem isso é o ideal. O ideal é utopia. Pra mim o certo seria escolher 15 julgadores para cada quesito e descartar algumas notas. Desta forma, iríamos diminuir a quantidade de erros, mas fazer isso é muito complicado.
Assunto que vem sendo frequente nas quatro mesas do seminário realizadas até aqui, as notas dez justificadas receberam atenção especial da dupla. Além de confirmar que é favorável à medida, Laíla disse mais.
- Tem que ter lisura e amor por aquilo que faz. Alguns dos que estão ali são descompromissados com o carnaval. Você pega cada coisa nas justificativas que te revolta. O dez justificado é necessário sim.
Wagner lembrou também que a medida é uma forma de avaliar a verdadeira capacidade do julgador.
- O dez indevidos fazem muito mal ao carnaval. Talvez se o curso de jurados fosse mais extenso os erros poderiam ser diminuidos, mas é difícil afirmar isso. Não quero ouvir os elogios da nota dez, mas é uma forma de colocar em cheque o cara. A nota dez, às vezes, é fuga possibilitada ao julgador. Ele dá a nota e pronto – concluiu Wagner.
Já para a resolução de um dos problemas mais crônicos enfrentados pela escolas na Marquês de Sapucaí, o som da pista, Laíla surpreendeu a todos ao pedir aos órgãos que comandam a reforma no templo maior do samba carioca a construção de um terceiro Box para a bateria. Na visão do diretor de carnaval da Beija-Flor, a medida ajudaria a equilibrar a distribuição do som ao longo do desfile.
Wagner Araújo, além de concordar com o colega de profissão, pediu que, desta vez, algum sambista seja ouvido. Depois, em tom de brincadeira, discordou de Laíla, quando o comandante da Deusa da Passarela revelou a ideia de inserir no regulamento que as escolas cantassem o samba, somente com acompanhamento do cavaquinho e da bateria, durante 15 minutos. O fato de os jurados de harmonia descerem para a pista de desfiles durante a passagem das escolas também foi rechaçado por Wagner, que considera inviável a opção.
Com relação ao carnaval moderno, Laíla pediu aos órgãos de imprensa que valorizem mais os conceitos inerentes ao "chão" das escolas de samba.
- Aqueles que sentem saudade do carnaval onde as escolas passavam três horas na Avenida, que os sambas eram dolentes, não há como desfilar desta forma. Eu tenho que guiar a minha escola em cima do regulamento da competição. Carnaval é quesito! Não é só a plástica. Vamos largar esse negócio de Hollywood pra lá. A imprensa tem culpa nisso também, porque acaba valorizando demais essas coisas que aparecem. Carnaval não é carro de cabeça pra baixo não! A plástica é quem deve acompanhar o chão da escola. Não se pode gastar a grana que se gasta hoje com alegorias. Na Beija-Flor eu não deixo isso acontecer. Eu valorizo o samba, a bateria, a harmonia perfeita, a evolução, a espontaneidade do componente – desabafou.
Wagner fez coro com o diretor da Beija-Flor e pediu que segmentos como baianas, passistas e os grandes destaques sejam mais valorizados. Já com relação ao carnavalesco da Unidos da Tijuca, Paulo Barros, um dos ícones do carnaval moderno, a dupla discordou. Laíla revelou que quem não acompanhar o modelo de interação com o público vai acabar ficando pra trás. Wagner, elogiou Paulo Barros, mas disse acreditar que o artista encontra-se numa encruzilhada, já que não vê o estilo de Paulo Barros encaixar-se com o enredo sobre Luiz Gonzaga, tema da escola do Borel em 2012.
Sobre o quesito evolução, Laíla revelou seu incômodo com o excesso de coreografias visto no carnaval de hoje. Ele ressaltou que as coreografias não são algo do carnaval moderno e citou o Império Serrano como pioneiro. Laíla definiu que a evolução deve ser feita com simplicidade e, acima de tudo, o componente deve dançar aquilo que ouve. Para Wagner Araújo, apontado como maior responsável pelos desfiles extremamente técnicos da Imperatriz na década passada, a agremiação de Ramos sofre com um fenômeno ocorrido com as agremiações nos últimos anos.
- Na Imperatriz eu ainda tenho 40% de alas comerciais. Isso representa um grande percentual de pessoas que eu não sei como vai chegar pra desfilar. A grande maioria das pessoas que desfilam nessas alas não convivem conosco. Não vão aos ensaios e caem de pára-quedas no dia do desfile. O ideal, para a Imperatriz voltar a ter o rendimento que tinha, é vestir a escola toda. Antigamente o carioca não freqüentava as quadras da forma que freqüenta hoje. Ele descobriu que pode se divertir muito mais freqüentando as quadras ao invés de comprar fantasias, que são verdadeiras cangalhas de setecentos, oitocentos reais, e passar na Avenida durante 15 minutos – afirmou Wagner, que rebateu as críticas do enfileiramento da ala das baianas.
No que diz respeito ao posicionamento dos casais de mestre-sala e porta-bandeira na ‘’cabeça da escola’’, imprimido por Laíla na Beija-Flor, no início da última década, e seguido por todas as escolas posteriormente, a dupla concordou que é algo que ajuda a evolução das escolas. O consenso é que a agremiação só precisa parar uma vez para a apresentação das comissões de frente e casais de mestre-sala e porta-bandeira em cada cabine de julgadores. Quanto a alternância no ritmo que a escola evolui na Avenida depois da passagem destes dois segmentos, Wagner garantiu que os jurados recebem a orientação de que é normal isto ocorrer.
Outro pedido que virou lugar comum entre os dois experientes profissionais, foi o fim do quesito conjunto. Eles acreditam ser desnecessária a permanência do conjunto no julgamento, já que ele congrega todos os outros. Laíla pediu também que haja descarte somente da menor nota e que o número de módulos de julgamento volte a ser apenas quatro, além de manifestar o desejo de ver pessoas públicas no papel de julgadores. Ele exemplificou, citando Maria Augusta, Fernando Pamplona, os produtores do CD do Grupo Especial, e a jurada do Estandarte de Ouro, Lygia Santos, que esteve presente mais uma vez, assim como vários diretores de harmonia e carnaval de outras escolas.
Para encerrar a produtiva noite uma leve polêmica. Wagner Araújo respondeu pergunta feita pelo mediador Fábio Fabato, que questionou o fato de os julgadores só fecharem o envelope de notas do desfile de domingo na segunda-feira. O diretor de carnaval da Imperatriz disse que o julgamento é comparativo, portanto é preciso avaliar todas as escolas antes de fechar a nota de cada uma. Quanto às possíveis interferências que o jurado pode sofrer de um dia para o outro, Wagner não negou a possibilidade, mas reafirmou que os responsáveis pelo julgamento devem ter uma postura correta e personalidade forte. Mesmo um pouco incomodado com a questão, Laíla concordou com Wagner e deu nota 10 para o julgamento do Carnaval 2011. Já Wagner, que foi o sexto com a Imperatriz Leopoldinense, designou a nota 8,5 para o desempenho dos julgadores.
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