Por Rachel Valença, colunista do site Carnavalesco...
Quem gosta de samba e acompanha a vida das escolas de samba não pode se queixar de tédio. O desfile é em fevereiro, raramente no início de março. Mas o calendário de atividades se desenrola ao longo do ano e temos, sucessivamente, a partir de março, a distribuição dos profissionais pelas agremiações - popularmente conhecida como troca-troca -, em seguida eleições em algumas agremiações, depois especulações sobre enredos e patrocínios. Em junho e julho começam a aparecer as primeiras sinopses de enredos.
Para quem, como eu, adora samba-enredo, esse momento é muito importante, porque a sinopse é a ponte entre carnavalescos e compositores. De muito tempo para cá estou convencida da importância de uma boa sinopse para a criação de um bom samba-enredo. Pois é fundamental que os compositores entendam o desdobramento e o enfoque do enredo, e principalmente que esse enredo toque sua alma, despertando a inspiração.
Sim, eu ainda acredito na inspiração. Embora a técnica que reduziu as parcerias a escritórios seja hoje uma realidade, eu me recuso a acreditar em um processo tão burocrático quanto o nome escritório sugere. Samba-enredo é arte e como tal não pode prescindir de inspiração. Então, é fundamental que a sinopse tenha um quê de poesia, que não seja estritamente a narrativa de uma sucessão de fatos e conceitos.
A dificuldade reside exatamente no fato de que a grande maioria dos carnavalescos tem familiaridade com a expressão plástica e não com a expressão verbal. Sendo artistas plásticos, sua linguagem é visual, ou seja, se comunicam pelo que criam e mostram, não por palavras. Seu pensamento não é em geral lógico-discursivo. Felizmente, porque senão o espetáculo seria chatíssimo. O problema é que a sinopse se faz com palavras, tal como o samba-enredo. E o carnavalesco, salvo honrosas exceções, não transita bem no reino das palavras
Atingir a medida certa e o equilíbrio nem sempre é fácil. Clareza é fundamental, mas uma sinopse excessivamente lógico-discursiva pode gerar sambas pouco criativos. O outro extremo, uma sinopse muito criativa mas distante do factual pode confundir a cabeça dos poetas, ainda mais porque hoje em dia há enredos muito bizarros, muito afastados do cotidiano deles e do nosso também...
Talvez em virtude dessas dificuldades, tornou-se comum atualmente a terceirização da elaboração da sinopse: ou o próprio carnavalesco tem em sua equipe alguém capaz de traduzir em palavras o que lhe passa na cabeça, ou a própria escola conta com um Departamento Cultural que assume a tarefa. E há casos até de contratação de um "fazedor de sinopse" profissional (ou quase).
Na minha modesta experiência de carnaval, tive a felicidade de trabalhar com carnavalescos muito preparados, capazes não apenas de desenvolver de forma inteligente enredos seus ou enredos de terceiros, mas até de verbalizá-los com clareza e emoção em sinopses que ajudaram os compositores a criar com sucesso. Eram, além disso, pessoas muito abertas ao diálogo, que aceitavam sugestões e observações e as incorporavam com gosto e sem vaidade. Destaco especialmente Rosa Magalhães e Paulo Menezes, que me proporcionaram prazer e aprendizado ao acompanhar sua inteligente criação.
Estamos em meados de julho e já tive acesso às sinopses de oito escolas do Grupo Especial. Cinco ainda não foram divulgadas, tanto quanto estou informada. Para que os compositores disponham de cerca de um mês para criar, acho que já seria hora de termos todas elas, já que a disputa costuma durar dois meses e as finais acontecem em outubro. Por isso, até o final de julho creio que já contaremos com todas elas e vamos voltar ao assunto para comentá-las.
Para quem, como eu, adora samba-enredo, esse momento é muito importante, porque a sinopse é a ponte entre carnavalescos e compositores. De muito tempo para cá estou convencida da importância de uma boa sinopse para a criação de um bom samba-enredo. Pois é fundamental que os compositores entendam o desdobramento e o enfoque do enredo, e principalmente que esse enredo toque sua alma, despertando a inspiração.
Sim, eu ainda acredito na inspiração. Embora a técnica que reduziu as parcerias a escritórios seja hoje uma realidade, eu me recuso a acreditar em um processo tão burocrático quanto o nome escritório sugere. Samba-enredo é arte e como tal não pode prescindir de inspiração. Então, é fundamental que a sinopse tenha um quê de poesia, que não seja estritamente a narrativa de uma sucessão de fatos e conceitos.
A dificuldade reside exatamente no fato de que a grande maioria dos carnavalescos tem familiaridade com a expressão plástica e não com a expressão verbal. Sendo artistas plásticos, sua linguagem é visual, ou seja, se comunicam pelo que criam e mostram, não por palavras. Seu pensamento não é em geral lógico-discursivo. Felizmente, porque senão o espetáculo seria chatíssimo. O problema é que a sinopse se faz com palavras, tal como o samba-enredo. E o carnavalesco, salvo honrosas exceções, não transita bem no reino das palavras
Atingir a medida certa e o equilíbrio nem sempre é fácil. Clareza é fundamental, mas uma sinopse excessivamente lógico-discursiva pode gerar sambas pouco criativos. O outro extremo, uma sinopse muito criativa mas distante do factual pode confundir a cabeça dos poetas, ainda mais porque hoje em dia há enredos muito bizarros, muito afastados do cotidiano deles e do nosso também...
Talvez em virtude dessas dificuldades, tornou-se comum atualmente a terceirização da elaboração da sinopse: ou o próprio carnavalesco tem em sua equipe alguém capaz de traduzir em palavras o que lhe passa na cabeça, ou a própria escola conta com um Departamento Cultural que assume a tarefa. E há casos até de contratação de um "fazedor de sinopse" profissional (ou quase).
Na minha modesta experiência de carnaval, tive a felicidade de trabalhar com carnavalescos muito preparados, capazes não apenas de desenvolver de forma inteligente enredos seus ou enredos de terceiros, mas até de verbalizá-los com clareza e emoção em sinopses que ajudaram os compositores a criar com sucesso. Eram, além disso, pessoas muito abertas ao diálogo, que aceitavam sugestões e observações e as incorporavam com gosto e sem vaidade. Destaco especialmente Rosa Magalhães e Paulo Menezes, que me proporcionaram prazer e aprendizado ao acompanhar sua inteligente criação.
Estamos em meados de julho e já tive acesso às sinopses de oito escolas do Grupo Especial. Cinco ainda não foram divulgadas, tanto quanto estou informada. Para que os compositores disponham de cerca de um mês para criar, acho que já seria hora de termos todas elas, já que a disputa costuma durar dois meses e as finais acontecem em outubro. Por isso, até o final de julho creio que já contaremos com todas elas e vamos voltar ao assunto para comentá-las.
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