segunda-feira, 4 de julho de 2011

O ENREDO E O NOSSO CANTO FORTE

Por Nilcemar Nogueira, colunista site SRZD.


No início dos desfiles das escolas de samba, os sambas cantados não se relacionavam com qualquer enredo. Parte do samba era fixa, cantada em coro pelas pastoras e em seguida o versador cantava em solo uma parte improvisada. Algumas pesquisas creditam aos anos 33 e 34 o registro de sambas relacionados a enredos.

Data deste período o enredo aparecendo como quesito de julgamento, embora não determinasse todos os elementos do desfile. Algumas escolas desfilavam com mais de um samba. Nos anos 40 o enredo vai amarrar propriamente dito, todos os elementos da escola. Do samba composto nos moldes clássicos (16 compassos) passando pelos apelidados de "lençóis", dos quais vale lembrar Aquarela Brasileira, que se tornou grande clássico do repertório do samba-enredo.

Nos anos 70, observa-se uma grande transformação no contexto do desfile carnavalesco e que atinge também a estrutura dos sambas, que aos poucos abandonaram a obrigatoriedade de descrever integralmente o enredo e se voltam para a composição de sambas com refrão, momento em que ocorre também o aceleramento rítmico, que afasta o samba-enredo de suas características musicais, ficando conhecidos por um período como marcheados" e nos últimos tempos "frevados".

Esse processo, cuja preocupação maior estava voltada para o comércio do Carnaval, levou ao empobrecimento desse gênero, que resultou na queda de venda dos CDs e declínio do respeito que tinha a figura do compositor nas escolas de samba.

É possível constatar nos primórdios da história do samba carioca, ser o compositor uma das principais referências - Cartola na Mangueira, Paulo da Portela, Silas de Oliveira no Império Serrano - personagens que tinham grande status perante suas comunidades e fora delas. No próximo dia 06 de julho será oficialmente lançado pela LIESA os enredos das escolas de samba do grupo especial, período em que as escolas iniciam o processo de seleção dos sambas que deverão embalar seus componentes, que esperamos favoreçam os desenhos rítmicos de suas baterias e a interpretação de seus intérpretes.

Se o critério subjetivo imposto ao julgador no dia do desfile não valoriza a inspiração dos compositores de samba-enredo, vamos torcer para que nas quadras (celeiros dos bambas) seja exaltada a arte, o poder criativo e musical dos sambistas. Quando o canto é forte, está garantida a emoção.

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