quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ESTÁ FALTANDO PASSISTA MASCULINO NAS ESCOLAS DE SAMBA!

Passistas


O samba no pé e a malandragem do passista sempre fizeram parte daquela lista de fundamentos da aura mágica do carnaval carioca, como o rebolado da mulata e o giro da baiana. Mas, em tempos modernos, tem muita agremiação penando para preencher as vagas abertas a esses sambistas, meio atletas, meio bailarinos. Ainda mais quando as escolas exigem deles o gingado tradicional do passista masculino, inspirado em mestres como Vitamina, do Salgueiro, ou Valcir Pelé, da Portela.

Na Renascer de Jacarepaguá, estreante do Grupo Especial, a ala de passistas este ano terá mais que o dobro de mulheres do que homens, 40 a 16. E de acordo com os diretores da ala, Pelezinho Samba Show e Rose Chocolate, foi árdua a tarefa de selecionar os rapazes do grupo, uma vez que muitos dos que se apresentavam à função não atendiam aos requisitos esperados de um exímio passista masculino.

— Buscávamos neles o samba rasgado, com postura e elegância para riscar o chão. Mas foi um garimpo cansativo, de quatro meses. O que me faz temer até que, com a evolução das escolas, o passista masculino desapareça dos desfiles. Muitos que testamos não tinham as técnicas do samba ou, em vez de cortejar as damas, queriam se igualar ao requebrado delas — disse Pelezinho.
E é nesse último detalhe apontado por Pelezinho que se instaura uma polêmica. Em algumas escolas, têm sido aceitos passistas que dançam mais parecido com as mulheres, cujo bailado tem movimentos de quadris e braços mais extensos e sensuais. O que não é admitido, porém, em outras agremiações, como no caso da Renascer.

— Mas isso não tem nada a ver com preconceito nem nada parecido — ressalva Pelezinho. — Não nos interessa saber, por exemplo, a orientação sexual dos nossos componentes. Isso não importa. Mas o que exigimos é o samba tradicional do passista masculino, diferente do feminino. Na Avenida, ele vai representar o malandro. E a dança dele tem de traduzir isso.

Na Acadêmicos do Grande Rio, a exigência é a mesma. Na escola, a seleção dos passistas é rigorosa e longa. Só depois de um concurso na quadra e de ensaios o sambista está apto a ingressar na ala.

— É preciso ter os características como técnica e malemolência. E criar seu estilo. Não gosto de soldadinhos de chumbo, todos sambando igual. Mas para rebolar com graça, temos as passistas mulheres. O homem tem que ter ginga, samba no pé. Vestiu a roupa tradicional, ele é o passista, independente de sua orientação sexual ou qualquer outra questão. Ele representa a figura do malandro. E precisa dançar como tal — diz Avelino Ribeiro, presidente dos passistas da tricolor de Caxias.

Segundo ele, são principalmente as escolas de samba mais novas as que enfrentam mais dificuldades para compor suas alas. Até porque, além do samba do pé, um passista tem que cumprir muitos outros quesitos. E poucos estão dispostos a tamanha entrega à agremiação, ainda mais quando a escola não tem uma grande torcida formada.

Avelino lembra, por exemplo, que o velho malandro carioca e os alinhados sambistas portelenses do passado que inspiraram os trajes dos passistas atuais, como o sapato branco ou nas cores da escola, a calça social, blusões e chapéu Panamá. E respeitar essa vestimenta, mesmo adaptando a novidades atuais, como diferentes tecidos, são indispensáveis. Além, claro, de não faltar aos ensaios, não desfilar em nenhuma outra agremiação do Grupo Especial e ter comportamento adequado na quadra, entre tantos outros deveres.

Tudo que Tiago Soares, de 28 anos, passista da Grande Rio desde 2006, diz valer à pena para riscar o chão da Avenida como passista. Ele conta que desde muito novo observava os sambistas na quadra da escola e treinava em casa. E diz sempre ter tido consciência de que era preciso muita dedicação para chegar à ala e se destacar.

— Aprendi olhando os mais experientes. É prazeiroso desfilar cumprindo a função de passista. Mas não basta chegar e querer um lugar na ala. É preciso se aplicar, ter disciplina e buscar se aprimorar — afirma Tiago.


Raymondh Júnior

Nenhum comentário:

Postar um comentário