sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

80 ANOS DE DESFILES: BEIJA-FLOR, MOCIDADE E IMPERATRIZ TOMAM O LUGAR DAS QUATRO GRANDES E DOMINAM O CARNAVAL

Gal Costa da Imperatriz de 1980


...E abriu-se o caminho para as novas campeãs do carnaval


O primeiro título, a gente nunca esquece. E Beija-Flor, Mocidade Independente e Imperatriz Leopoldinense sentiram esse gosto no mesmo período (final dos anos 70 e começo dos anos 80), rompendo a barreira das então quatro grandes do carnaval carioca (Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano) - boa parte dessa história é contada no livro "As Três Irmãs – Como um Trio de Penetras Arrombou a Festa".

Abre-alas da Beija-Flor em seu primeiro título (1976)
Abre-alas Beija-Flor 1976


A primeira a chegar ao pódio do carnaval foi uma escola da Baixada que nos anos anteriores havia feito enredos de apologia à ditadura militar. Seu nome era Beija-Flor de Nilópolis. Mas, para chegar ao título, a escola contou com o forte poder econômico do seu patrono, Anísio Abrahão Davi, e foi buscar nada menos que a dupla bicampeã no Salgueiro, o carnavalesco Joãosinho Trinta e o diretor de harmonia Laíla.

A escola entrou no seleto grupo das campeãs com o pé direito, cantando a história e o folclore em torno do jogo do bicho, no enredo "Sonhar com Rei Dá Leão". A azul e branca surpreendeu com um visual exuberante. O abre-alas trazia estruturas giratórias e belas mulheres com panos esvoaçantes que davam um ar de sonho à alegoria. A Beija-Flor veio vibrante e convenceu os críticos, embora poucos de fato apostassem no campeonato da agremiação.

Um dos especialistas que apontaram a escola como uma das possíveis campeãs foi Haroldo Costa. Na edição do jornal O Globo de 3 de março de 1976, ele sentenciou: "Acho que a Beija-Flor deve ser a campeã. Ela apresentou o enredo mais carioca, além de ter devolvido ao sambista o prazer de brincar. A ironia e a brincadeira na letra do samba são coisas bem cariocas". E o palpite estava certo: deu Beija-Flor na cabeça!


Descobrindo a vitória


As baianas da Mocidade no
Baianas da Mocidade no "Descobrimento do Brasil" 1979


A Beija-Flor se acostumou com a vitória e em 1978 já era tricampeã. Quem iria desbancar a hegemonia nilopolitana? A resposta: uma escola verde e branca que em anos anteriores mostrava belíssimos carnavais. Era a Mocidade Independente de Padre Miguel, que contava em sua equipe com um dos gênios do carnaval: Arlindo Rodrigues. Mais um artista que veio da vitoriosa equipe de carnavalescos do Salgueiro.

Para 1979, Arlindo decidiu refazer o primeiro enredo que ele havia desenvolvido sozinho para a vermelha e branca tijucana, em 1962: “O Descobrimento do Brasil”. Os críticos torceram o nariz, por achar um enredo batido. Mas o carnavalesco soube contar muito bem a história da chegada dos portugueses às nossas terras, dividindo o desfile em subtemas: Portugal , a busca pelas especiarias, o mar e a chegada ao Brasil. No final, a escola faturou o prêmio de melhor enredo dado pelo júri do Estandarte de Ouro.

No desfile, a Mocidade banhou a Avenida de branco e prata, com pequenos toques em verde e dourado. Com fantasias muito requintadas - criadas pelo figurinista Augusto Silva -, um visual irrepreensível, um samba correto e uma bateria extraordinária comandada por Mestre André, a escola saiu da pista como uma das favoritas ao título, ao lado da Portela. Mas na apuração, a verde e branca levou a melhor. E finalmente o povo da Zona Oeste descobriu o caminho da vitória.


O que é que a Imperatriz tem?


Ala das baianas da Imperatriz em 1980:
Baianas da Imperatriz em 1980

"Reluzente como a luz do dia... Bela e formosa como as ondas do mar". Foi assim que a Imperatriz surgiu na Marquês de Sapucaí na manhã de segunda-feira de carnaval. Foi a última escola a se apresentar, depois de uma noite de desfiles históricos. E a verde e branca pisou forte cantando a Bahia, com o visual caprichado, preparado pelo campeão do ano anterior, Arlindo Rodrigues. Logo no abre-alas, a escola trouxe a cantora Gal Costa, emoldurada por uma alegoria com adornos em renda giratórios que proporcionaram uma entrada imponente na Avenida.

Com um sambaço, uma bateria segura, muita animação e luxo, a Imperatriz deslizou pela Sapucaí e se consagrou como uma das campeãs, empatada com a Beija-Flor - encantadora, com o enredo infantil "O Sol da Meia-Noite" - e a Portela, com "Hoje Tem Marmelada". Vale lembrar que em 1978, ou seja, apenas dois anos antes, a escola estava no segundo grupo. A ascensão foi meteórica e a Imperatriz logo se tornou mais uma novata a completar o trio de penetras a roubar a festa das quatro escolas tradicionais.

Depois vieram muitos títulos: a Imperatriz conquistou mais sete (1981, 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001). A Mocidade foi campeã mais quatro vezes (1985, 1990, 1991 e 1996). E A Beija-Flor chegou ao topo mais onze vezes: 1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008 e 2011. Somando os títulos dessas três escolas, são nada menos que 25 campeonatos. Prova de que, depois de 1976, o desfile das escolas de samba passou por uma grande virada, tendo como protagonistas três “irmãs” que arrombaram a festa do carnaval.


Raymondh Júnior



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