quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

AS TRÊS IRMÃS - POR RACHEL VALENÇA

Foto: Ricardo Almeida
As Três Irmãs
Por Rachel Valença, colunista do site SRZD.

Não, leitores, não fugirei ao desafio de falar sobre os sambas do Grupo de Acesso A, que me foi lançado nos comentários ao último texto. Mas antes peço licença para abrir um parêntese e comentar um evento que ontem reuniu grande quantidade de sambistas e agitou a noite da Lapa.

As três irmãs do título, as escolas de samba que a partir da década de 1970 ousaram ameaçar a hegemonia das quatro grandes da época - Mangueira, Portela, Império Serrano e Salgueiro -, são agora objeto de um estudo muito interessante, lançado ontem pelos autores Alan Diniz, Alexandre Medeiros e Fábio Fabato. O livro se chama As três irmãs: como um trio de penetras "arrombou a festa". Alan Diniz se ocupa da Beija-Flor, Alexandre Medeiros escreve sobre a Imperatriz Leopoldinense e Fábio Fabato aborda a Mocidade Independente de Padre Miguel. Os jovens pesquisadores têm em comum a paixão por suas escolas de fé e acertaram em cheio ao optar por um gênero leve e de leitura fácil: a crônica.

Distribuídos de forma equilibrada entre as "penetras", são ao todo 35 textos, às vezes engraçados, às vezes comoventes, mas sempre muito informativos, porque registram com fidelidade fatos e personagens que com o tempo tendem a cair no esquecimento, mormente porque do samba e do magnífico universo cultural das escolas de samba ainda há uma bibliografia escassa.

Mas mais do que falar sobre o livro, que merece ser lido, o que gostaria de comentar é o clima de alegria e camaradagem do lançamento. Não era um evento "chapa branca", não havia a "boca livre" que atrai às festas de samba gente estranha, que nada tem a ver com o que se passa ali. Nada disso. Era uma verdadeira celebração da amizade, porque só o prestígio dos autores, vindo do reconhecimento ao que cada um deles já fez por sua escola, é que levou até lá gente importante como Neguinho da Beija-Flor, Pinah, Selminha Sorriso, Zé Catimba, Tiãozinho da Mocidade, Dominguinhos do Estácio, Chiquinho e Maria Helena, Rosa Magalhães, Fernando Pamplona, as baterias das três escolas, passistas, membros das velhas guardas e muita gente mais.

O restaurante Ernesto foi pequeno para tanta animação. Melhor assim, porque sambista não gosta de muito espaço, quer mais é se apinhar. Como é bom estar pertinho de todo mundo, sem aquelas abomináveis áreas vips que discriminam e afastam.

Quem queria tirar foto com os astros conseguia facilmente, porque era tudo próximo e amigável. Não vi mau-humor nem cara feia, só sorrisos e alegria muito legítima, ao som de sambas maravilhosos que essas três escolas nos deram ao longo de suas existências.

Saí da Lapa com o coração em festa, como acontece sempre que estou com quem é de samba, com quem gosta realmente de samba. Mas mais feliz ainda por ver que há gente jovem preocupada com a memória do samba, que escreve e batalha uma publicação (um viva à Editora Novaterra, que abre espaço para o samba) e ainda por cima é capaz de organizar, sem patrocínio algum, uma festa tão bonita, autêntica e rica de valores culturais.

Foto: Ricardo Almeida
Foto: Ricardo Almeida

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