terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O BLOCO DOS ARENGUEIROS E A ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA

Mangueira

“Entre os anos de 1910 e 1913, quando o samba não tinha nenhum valor e nem se pensava em escolas de samba, a Mangueira já despontava como pioneira dos carnavais cariocas. Naquela época, já existiam aqui dois fortes e aguerridos cordões: Guerreiros da Montanha e Trunfos da Mangueira. O primeiro tinha sua sede na casa da Tia Chiquinha Portuguesa e o segundo na casa do Leopoldo da Santinha, ambas no Buraco Quente. Os cordões eram mais antigos e maiores que os ranchos, tanto em pessoas como em instrumental. Tinham uma comissão de frente de índios. Os componentes carregavam bichos vivos: cobras, lagartos, bichos de pena. A coreografia era indígena. O estandarte era um pau bem grosso, de uns dois metros de alto, que só podia ser carregado por homens bem fortes. Eu saía fantasiado de caboclo Caramuru, de saiote branco de morim, com uma cruz encarnada no peito, outra nas costas e um capacete de três penas. Levava nas mãos um arco, um escudo e um machadinho. Pouco antes da primeira guerra, de 1914, ap areceram os ranchos. Aqui tivemos três: o Pingo do Amor, o Príncipe das Matas, do seu Zé das Pastorinhas, e o Pérolas do Egito, da Tia Fé.” (Depoimento de Carlos Cachaça ao Museu da Imagem e do Som.)

No começo do século XX, para uma comunidade pobre, era praticamente impossível manter um rancho durante muito tempo, dado o luxo das fantasias e o alto custo dos instrumentos de sopro e de corda. Por isso, começaram a aparecer os blocos, as células de onde surgiriam as escolas. A Mangueira tinha o Bloco da Tia Fé, o Bloco da Tia Tomásia, o Bloco do Mestre Candinho.

Em 1925, Carlos Cachaça, Cartola, Saturnino, Arturzinho, Zé Espinguela, Massu, Antônio, Chico Porrão, Homem Bom e Fiúca fundaram o Bloco dos Arengueiros, que, como o próprio nome sugere, reunia a rapaziada que era boa de samba e de briga. Esse bloco, três anos depois, transformou-se na Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, reunindo, em torno de si, todos os demais blocos da comunidade. Assim, em 28 de abril de 1928, na Travessa Saião Lobato, nº 21, Euclides Roberto dos Santos (morador desse endereço), Pedro Caim, Abelardo Bolinha, Saturnino Gonçalves (Satur, o pai de D. Neuma), José Gomes da Costa (Zé Espinguela), Marcelino José Claudino (Massu) e Angenor de Oliveira (Cartola), fundam a Mangueira. As cores verde e rosa (inspiradas no rancho de sua infância, o Arrepiados, do bairro de Laranjeiras) e o nome da escola foram escolhidos por Cartola:

Eu resolvi chamar de Estação Primeira, porque era a primeira estação de trem, a partir da Central, onde havia samba. (Depoimento retirado do livro Fala Mangueira, de Marília T. Barboza da Silva, Carlos Cachaça e Arthur Loureiro de Oliveira Filho).

Cartola foi também o primeiro mestre de harmonia, o ensaiador do coro de pastoras e dividia com Carlos Cachaça o título de melhor compositor da comunidade. Saturnino, pai da Dona Neuma, foi o primeiro presidente. Massu, o primeiro mestre-sala. Zé Espinguela, o primeiro realizador de um concurso entre escolas de samba, no dia 20/02/1929, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade.

A escola uniu e une moradores das diversas localidades do Morro da Mangueira: Chalé, Tengo-Tengo, Santo Antônio, Faria, Pedra, Joaquina, Pindura Saia, Red Indian, Telégrafo, Candelária, Buraco Quente e outros. De lá veio uma grande linhagem de poetas do samba no Rio de Janeiro: além de Cartola e Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Padeirinho, Pelado, Preto Rico, Jorge Zagaia, Jurandir, Xangô da Mangueira, Nelson Sargento, que ajudaram a construir, com a sua música, a imagem de uma nação verde e rosa, encravada no subúrbio, mas aberta para toda a cidade e o país.

Raymondh Júnior

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