sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SUPERPACOTÃO DE OPINIÕES: SOBRE OS CDs DA AESCRJ, GRUPO B e SAMPA

Por Ricardo Delezcluze, colunista do site Carnavalesco



Final de ano além de curtir o natal e revellion é tempo de ouvir samba-enredo. E como “na minha casa todo mundo é bamba”, todo samba tem espaço. Logo depois dos CDs do Grupo Especial e do Acesso A do Rio de Janeiro, adquiri os de São Paulo. Próximo do Natal passei na LESGA e comprei o do Acesso B. E finalmente depois de entrarmos em 2012 pude me deliciar com o CD da AESCRJ.

Um CD que é resultado de um projeto ambicioso que envolveu a mobilização dos presidentes das escolas do C, D e E. Contou ainda com a fundamental liderança da AESCRJ. E finalmente com a brilhante produção musical de Victor Alves. Um álbum triplo a R$ 10 mostra o quanto é possível fazer com ambição e visão pelas escolas da Intendente. Um projeto que nunca se viu dentre essas escolas, que respeita suas raízes e marcas identitárias. Que satisfaz as escolas neste sentido e no mais amplo, o de permitir um mecanismo de divulgação onde todas têm espaço. Enfim, satisfaz aos amantes do carnaval carioca que anseiam por
ouvir esses sambas e durante um tempo tiveram que batalhar na internet atrás das gravações independentes das escolas.

Começo pelo Grupo C onde a qualidade das gravações salta os olhos. Antes de entrar na questão da qualidade dos sambas chamo atenção para as faixas da Lins Imperial e Boi da Ilha que ficaram muito bem gravadas. Os intérpretes das duas escolas, Carlos Jr. e Marquinhos do Banjo, valorizaram os sambas. Sobre os sambas, os que mais me agradaram foram os da Lins Imperial com um refrão muito bonito (“Acende o cachimbo ó pai Celestial/ Ilumine a minha Lins Imperial”), bem como a segunda parte do samba; e Império da Praça Seca, que em minha opinião tem o melhor samba do grupo e talvez o melhor samba de sua curta história (“Chegou o Império do samba/ Comunidade, guerreira/ A Praça Seca vai te conquistar? meu verde e branco hoje vai brilhar”). O samba da Unidos de Vila Kennedy (“Senhor! Mandai um sinal de proteção/ Uma aliança de união, num facho de luz/ resplandece no céu, um elo de amor/ Que a Vila Kennedy chegou”) seguindo seu estilo dos últimos anos também figura entre meus preferidos e vez por outra tira o topo do pódio da Praça Seca. É uma delícia poder ouvir o surdo de primeira da Vila Kennedy. Quando as gravações eram independentes raramente se ouvia essa marca da escola. No mesmo grupo a Unidos da Ponte apresenta um samba reeditado de 1989 “Vida que te quero viva”.


Passando para o Grupo D temos um grande samba da Flor da Mina do Andaraí, que abre o CD, sobre uma personalidade não menos grandiosa: Dona Zica da Mangueira. A Unidos do Anil traz um samba bonito e que segue um estilo recorrente nos últimos anos na escola (“Lágrimas, seus lindos olhos verdes tem sabor de mel...”). Junto dos sambas da Flor da Mina e do Anil, um dos meus preferidos é o da Mocidade Unida de Jacarepaguá e pelo segundo ano seguido. Caso a escola da Cidade de Deus siga a tendência no seu desfile tem tudo para brigar pelo título que escapou por pouco no último ano. Outro que consta na lista dos meus preferidos é o inusitado samba da Unidos de Cosmos. Aqui os amigos vão me permitir este devaneio mas considero maravilhoso um samba ideologicamente orientado. Ainda mais quando a ideologia vai na contramão do senso comum. Falar sobre Yuri Gagarin na Intendente Magalhães é sensacional (“A nave do Cosmos, vai decolar/ Yuri Gagarin, vai nos guiar”). O samba cita até a cadelinha Laika, o primeiro ser vivo a visitar o espaço (“Cruzou o céu/ o nosso amigo mais fiel/ que virou astro do universo/ um grande herói dessa aventura espacial”). A coisa fica mais interessante ainda quando sobram até espetadas para os ianques (“E o Tio Sam ficou tão cego de Ambição/ Seu sonho se perdeu na escuridão”). É simplesmente sensacional! Também não ficam devendo os sambas da Unidos de Lucas e Vizinha Faladeira, vale a pena conferir.


No terceiro CD, das escolas do Grupo E, no entanto, ouvi os melhores sambas do álbum. Vou começar pelo meu terceiro preferido o samba da Unidos do Cabral. Um samba que começa dolente e poético, com aquele sentimento que os mais belos sambas têm: “Não há no infinito/ luar mais bonito,/ feito do nosso sertão/ onde a lua de prata/ beija a madrugada/ cortando o clarão”. Segue a minha lista de favoritos com a Mocidade Independente de Inhaúma. Um samba cheio de sacadas legais (“Mano Décio desce o dedo na viola...”) e uma melodia bem gostosa para falar do bamba Jorginho do Império. Eis que enfim tem o meu preferido do CD, o samba do Canários das Laranjeiras. Quando ouço o refrão logo sinto aquela sensação de Rio de Janeiro, Zona Sul, tudo que o enredo se propõe a falar. Sinto-me respirando o ar de Laranjeiras que é o enredo da escola em 2012: “Eu sou o samba/ De amarelo e branco/ ergo minha bandeira/ Quem tem história e tantas glórias?/ Canários das Laranjeiras”. O samba do Canários é, em minha opinião, o segundo melhor do ano. Perdendo apenas pro sambaço da Portela.


Vale a pena ouvir e conferir o CD da AESCRJ. Uma excelente produção. Uma excelente iniciativa da Associação. Uma pena que três escolas do Grupo E ficaram de fora, pois o CD é histórico. Que venham muitos anos com uma produção de qualidade dessas para as escolas dos grupos C, D e E.


E o CD do Grupo B?
Confesso que fiquei muito decepcionado com este CD. Ficou muito abaixo em seu conjunto do álbum da AESCRJ. Talvez a pior safra de sambas de enredo de todos os tempos no Grupo B. Quando imaginei que só eu pensava assim pude constatar em outros amigos a mesma impressão. O pior é o fato de este quadro ter se desenhado há um bom tempo, mas sinceramente, não consigo encontrar as reais motivações. A produção não pode ser culpada já que é competente e se esforçou em tudo que pode. A competência é comprovada pelo ótimo CD do Grupo A dos mesmos produtores. Quanto ao esforço comprovamos nos arranjos como o da faixa do Sereno. Um solo instrumental delicioso antecede e encerra a faixa. O próprio samba do Sereno é um dos poucos que me sensibilizam no CD. Além deste agradaram-me Tradição, Caprichosos e Curicica; mas nada extraordinário. Nenhum samba do Grupo B me empolgou este ano. Fico encucado é com o que teria causado essa queda no nível dos sambas em um grupo que já teve CDs melhores que os do Grupo Especial em tempos não muito distantes.

Sambas de Sampa! 
A cobertura que o site Carnavalesco deu para o lançamento dos CDs de São Paulo, além de inédita por parte da imprensa carnavalesca carioca, é merecedora de aplausos. Já faz um tempinho que sou admirador do samba paulistano. Berço de tantos bambas, sendo o de maior destaque Geraldo Filme. Minha admiração foi crescendo tanto que em 2011 troquei a sexta e o sábado da Sapucaí pelo Anhembi. Conferir in loco os desfiles de São Paulo foi uma das experiências mais legais da minha trajetória carnavalesca. Muito da minha admiração eu nutri através dos sambas. E o CD segue bem o estilo de lá. A única mudança e muito bem-vinda por sinal, foi a reunificação das ligas e consequentemente dos CDs. Falta ainda bolar um esquema de distribuição mais eficaz para fazer com que o CD chegue a todas as praças. Um belo CD duplo vem da terra da garoa. Lá meus sambas preferidos são Mocidade Alegre, Império da Casa Verde e Dragões no Especial. Já no Acesso o sensacional samba do Morro da Casa Verde e o delicioso samba da Nenê de Vila Matilde.
E o CD de Manaus? Infelizmente, não há previsão para lançamento do CD de Manaus devido a um imbróglio envolvendo uma das escolas e a produção. Fica para a próxima uma visão sobre o mesmo, bem como de outros discos de escolas de samba país afora.
Então é isso... Apresentei aqui uma série de opiniões sobre os mais diversos sambas e CDs. É possível notar pelo formato que não era minha pretensão apontar os defeitos e atribuir pontos a serem corrigidos nos sambas. Estaria ultrapassando minhas possibilidades e avaliando com parâmetros diferentes do julgamento, talvez confundisse o leitor, o compositor e os torcedores das agremiações em questão. Preferi apenas apontar meus preferidos, minha concepção pessoal visando estimular a curiosidade em torno dessas obras e o debate com os leitores que já ouviram e tem opinião formada sobre os mesmos. Agora o espaço é de vocês! O que você leitor achou destes CDs?


Raymondh Júnior

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