sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

80 ANOS DE DESFILES: HÁ 80 ANOS, ACONTECIA O PRIMEIRO DESFILE DE ESCOLAS DE SAMBA

 

Há 80 anos, era realizado o primeiro desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro. O palco era a Praça Onze (veja a foto), berço do samba, a pequena África, lugar onde tudo começou, sob a inspiração de Tia Ciata. Por ali passaram (e passam até hoje) os sambistas que construíram essa história, em décadas e décadas de uma história que transformou nossa manifestação cultural no maior espetáculo da Terra. Para festejar esses sambistas, estamos exibindo o projeto “80 Anos de Desfiles”.

Para começar essa história, vamos lembrar o primeiro desfile das escolas de samba, realizado em 1932. Vale lembrar que uma disputa parecida já havia acontecido em 1929. Na casa de Zé Espinguela, no Engenho de Dentro, reuniram-se integrantes da Portela (então Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz), da Mangueira e da Deixa Falar. Alguns sambas foram cantados, e o vencedor foi a Portela (o dono da casa, Zé Espinguela, era o único jurado).

Mas esse não é considerado o primeiro campeonato, já que não houve desfile Na época, ele era chamado de “Campeonato de Samba”. Em 1932, aí sim, aconteceu o primeiro desfile das escolas de samba, na Praça Onze. A disputa foi organizada pelo jornal “Mundo Sportivo” - na época, era comum que os jornais promovessem as disputas carnavalescas de blocos, ranchos, etc. Veja como o jornal O Globo (que organizaria o torneio de 1933) noticiou o primeiro desfile das escolas de samba, que aconteceu no dia 7 de fevereiro. Esta reportagem é de dois dias antes. Vale lembrar que as escolas de samba ainda não tinham a importância de ranchos, cordões e grandes sociedades, as manifestações carnavalescas predominantes da época. Para valorizar o documento, mantivemos a grafia das palavras à época.

Depois de amanhã, a praça Onze será theatro do Campeonato de Samba
Um espetaculo que promette uma imponencia excepcional
Depois de amanhã a praça Onze de Junho será theatro do grande Campeonato de Samba promovido pelo "Mundo Esportivo". Já conhece o publico, em linhas geraes, o extraordinario acontecimento que constituirá uma nota de irresistivel encanto no Carnaval deste anno. O exito do formidavel certamen está acima de qualquer duvida. Basta ver o numero de concorrentes, aliás impressionante. As escola que se candidataram aos grandes premios são as melhores da cidade. O Rio verá, de facto, a massa encantadora dos morros descer para a praça Onze. O espectaculo não podia ser mais pittoresco e suggestivo. Cada "escola" apparecerá ao publico com um numero consideravel de figuras. São, pois, centenas de boccas cantando, com a maior emoção, as melodias mais graciosas da cidade. Idependente das vozes e dos instrumentos sonoros, ha um sem numero de detalhes interessantes, inéditos e encantadores. Quando a primeira "escola" pisar o theatro da originalissima peleja, logo uma onda de melodia encherá a metropole. O samba dos morros nem sempre desce á cidade; ás vezes fica lá em cima, longe de qualquer possibilidade de ser trnasportado para o disco. Ha "malandros" que não admittem a victrola, porque têm a impressão de que, na chapa, o samba perde a sinceridade, a graça emotiva e dôce, o espírito delicioso. Assim sendo, fazem os sambas para si e para o seu gozo interior. Na praça Onze ouviremos sambas que nunca nos chegaram aos ouvidos e que têm, portanto, toda a formidavel seducção magica de uma primeira audição. Já falamos nos instrumentos prodigiosos que conseguem todos os effeitos, repercutindo profundamente a sua alma. Só a "cuica" encherá a praça Onze com o seu barbaro rumor que desenha as vozes profundas do samba, do espanto, da superstição. Outro espectaculo imponente: as pastôras! "Escola" em que se apresentarão com dezenas de pastoras. O côro feminino que se destaca no meio de todos os valores chega-nos até o funda da alma. Não queremos, é claro, descrever o que será o campeonato de samba, pois que elle é, sem exagero nenhum - um quadro indescriptivel. Apenas tentamos, aqui, dar uma pallida visão da sua incomparavel imponencia.”


Raymondh Júnior


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